domingo, 2 de março de 2014

olhos que enxergam só o que sentem, não transcendem. tem línguas que falam melhor ao peito. problema de sensibilidade. aqueles que ultrapassam o tangível, sentem o universo mais perto, o que está longe de nós, a realidade à parte, o outro lado do mundo. expandir-se. tocar-se para tocar os espaços, adentrá-los e amá-los. problema de sensibilidade. há segundos, mudos, entre trocas e três suspiros, em que o choro vem da terra e o rosto escurece, se põe para este canto, nasce e se dá para outro. problema de sensibilidade. uns sentem além, transgridem a barreira entre o eu e a natureza, se sentem parte de algo muito maior. nós infinito, nós a beira de nós mesmos, em nó, em verso, em cor. nós em grito.

problema de sensibilidade. desconfio dos cegos, dos distraídos, dos que por falta de atenção tropeçam na rua - eles estão sentindo o mundo, em seu estado mais múltiplo, diverso e unificado. estão perdidos porque enxergam muros e depois passarinhos e passos e pés e multidões.

estão percorrendo distâncias em instantes, lá e aqui, ocupam mais de um espaço, não cabem, flutuam.

problema de sensibilidade: sentir-se uni-versificada. transcender os limites entre o verão e nossa pele, entre o cosmo e a paixão, a loucura e o êxtase, o peso e o poema, o raio e o trovão. saber ser ponte. e atrever-se a atravessar a própria sensibilidade. e sentir maior e mais livre e com mais ternura.

-Caosmoss

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