segunda-feira, 17 de março de 2014

"Aqui estou para falar dos desabrigados. Dos que não souberam apreciar a felicidade no ápice de sua passagem grotesca ou a tristeza no ápice de sua continuidade rotineira. Dos que trancafiaram palavras por medo e trancafiaram o medo por entre os dedos, obrigaram o vento a seguir em uma única direção. Privaram a liberdade de ser livre. Livraram-se dos desejos durante as noites quentes ou até mesmo nas tardes de outono que se prolongaram numa preguiça infinita de fim-de-tarde-quase-noite-com-Lua-minguante. Dos que não perdoaram, dos que fecharam os olhos à procura de vida longa, dos que olharam para o céu procurando o tesouro escondido no infinito. Onde se escondeu o infinito dos desabrigados? De nós mesmos? Onde foram parar os nossos sonhos? E a alma? As almas foram despedaçadas num momento precipitado, colocadas rente aos entulhos de uma ruela abandonada – vulgarmente chamada de “beco da solidão” – e nunca mais retornaram para seus respectivos jardins. Nunca mais conheceram a pureza de um toque ou de um zelo. De um beijo. De um nada. Os sonhos se esgotaram no horário de pico. Os corpos continuaram expostos ao Sol quente, à noite sem luar, sem abrigo, sem teto, sem estrela. Estáticos e sozinhos, visíveis a olho nu."
— ZainabN.

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