segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Sonhar é utópico aos seres que há muito estão desacreditados na vida e suas maquinações, aguardar a luz ao final do túnel pode ser uma tarefa árdua. Palavra forte e de grande significado, pois mesmo desacreditado, sonhava com ela todas as noites… seus cabelos cor de chumbo fundido ao aço esvoaçavam e atormentavam minhas noites. Veio naquela caravela tão falsa quanto a história de Cabral, a seda era branca e os leves arranhões causados pelos remos davam um toque especial… como se a obra, quando falha, obtivesse mais valor. Todas as moças dos lençóis maranhenses curvavam-se diante do seu carisma, belas flores aos cabelos, água de coco, uma imagem divina em meio ao encontro dos céus… causava chuva mesmo diante do Sol, aos meninos que insistiam em galantear, o desprezo recebiam como resposta. Apaixonávamo-nos toda vez que subia ao topo da montanha, ela zombava do modo como meus dedos sumiam no chão opaco, eu zombava dos meus olhos que insistiam em fugir e reconhecer a fada ao meu lado, nada poderia ser comparado ao amor que evitávamos sentir. Algo em sua maneira de encarar o horizonte remetia ao passado triste de seus lábios, porque amar afunda feito câncer sem quimioterapia e apoio familiar, amar é estar sozinho quando o outro falha. Os amigos de bar admiravam como meus cachos andavam de acordo com meus poemas, emaranhados de sentimentos envolvendo emaranhadas pessoas, mas simples como a blusa furada em meu corpo… na metáfora de furar e deixar que furassem algo que já vazava faz tempo, como não percebi Bella chegar? Ela não dizia seu nome quando era solicitado, questões filosóficas a impediam narrar de quais terras haviam brotado suas margaridas… seu mundo era nos braços dos piratas galanteadores feitos do Atlântico, onde nada que a terra firme pudesse lhe proporcionar a traria de volta… aportar sempre foi questão de escolha, quando a chamavam por Bella, a permanência durava alguns meses. Meses em que deixava meu penhasco em busca dos meus olhos, as cachoeiras delineavam os sonhos que partiram, quando à ela, coube partir daqueles desejos tão reconfortantes… uma xícara de boldo pra curar a ressaca de tanto amor despejado noite passada, aos seus pés depositei lágrimas secas como tosse em tuberculose, eu só pedia compreensão. Cinco séculos após o ocorrido, os maranhenses ainda nutriam as orações pelo retorno da jovem, regavam as raízes do menino que acabara enraizado ao chão do pico mais alto do Maranhão. A árvore não produzia frutos, nada além de folhas verdes e uma sombra em sua copa… ela nunca vingara, Deus a havia condenado à espera; a ele, apenas a esperança do fim transpassar a alma.


— Lucas, baseado na música “Bella” do álbum “Gaveta” - Phill Veras.

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