"...Como é que fica o mundo quando destranco minha bolha? Sofrer é de uma arrogância egocêntrica sem limites. Tenho medo de dobrar a esquina de casa. Tenho medo de fazer aniversários. Tenho medo de ser mulher. Tenho medo que me magoem. Tenho medo de estarem rindo do quanto eu sou feliz quando alguém me abraça e eu me largo um pouco. Minha cabeça pesa quilos demais pro meu pescoço. Alguém por favor só me segura um pouquinho?
Tenho medo de acordar. Tenho medo quando acaba a bateria do meu Iphone porque mexer nele me distrai de pensar como tudo é bem maluco. Estou quase dormindo, quase. Sinto uma tristeza profunda de ir. Ir é muito triste. E estou sempre indo apesar das minhas unhas desesperadas eternamente esfolando algum conforto que deixou saudades apesar de nunca ter existido. Mas o Rivotril vai comigo e daqui a pouco me traz de volta... Eu não sou essa mulher que eu sou. Eu sou, mas às vezes não. É foda manter isso aí que sou o tempo todo. É um drama, uma novela...
Depois mil anos e todos nós mortos e os depois de nós mortos. Depois mais amores que me racham inteira e eu catando minhas bolinhas de gude pelos ralos de todas as cidades. Tenho medo de não ser mãe. Tenho medo de não ter fome. Tenho medo de não dormir. Ou tudo isso demais. Mais um Rivotril. O restinho dos ratos gritando somem. O restinho das pombas macabras somem. O restinho dos corvos somem. Todos para longe.Lá vai a mulher que assusta. Mas assusta principalmente eu mesma. Minha psiquiatra me disse que não sou fraca, sou humana, mas, poxa, às vezes é bem fraco ser humano. Preciso gostar dessa parte, preciso gostar dessa parte. Tirar meu salto alto enfincado no meu próprio peito. O céu está bem limpo enquanto eu durmo em algum lugar bem longe de mim."
Tati Bernardi
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