❝Eu não queria ter socado seu peito — mesmo não tendo ao menos te feito cambalear —, nem gritado com você, nem quebrado seu aquário vazio no tapete da sala. Me desculpa, ok? Não era eu ali, te chamando de filho da puta, desgraçado, frio ou qualquer outra coisa que me tenha passado pela cabeça no momento. Mas foi só isso, momento. Foi o calor do momento. Assim como as vezes em que você mordia meu lábio forte demais, porque era o calor do momento, e nenhum de nós pensava com clareza; éramos nós dois fora de controle, incendiando. Naquela tarde chuvosa e escurecida pelas nuvens pesadas — e também pelo meu humor —, o barulho do trovão soando juto com meus gritos, era eu fora de controle; dessa vez, congelando. Era eu tempestuando a sala e encharcando tudo com a minha raiva.
E você estava calmo como o alto mar depois da tempestade. Só foi reagir quando com um resmungo, percebi que tinha cortado meu pé com um pedaço de aquário. E você me olhou com aquela carinha de preocupação, me perguntando se eu estava bem… “Em que merda de universo eu estaria bem?” foi o que eu respondi com uma raiva que eu nunca tinha usado em você, o que te fez recuar mais uma vez e voltar pra sua calmaria.
E você me olhou enquanto eu gritava, me olhou enquanto eu chorava, me olhou enquanto eu silenciava. Mas quando meus olhos foram procurar os seus, você fugiu. Mas que droga, por que fugiu? Eu precisava dos seus olhos pra me dizer em silêncio que tudo ia ficar bem, mesmo que fosse mentira. Eu precisava ver neles que também estava doendo em você„ que eu não estava sozinha, que você não tinha me abandonado… Mas você abandonou.
Porque você iria embora, independentemente dos meus gritos, das minhas lágrimas, dos meus socos, de qualquer coisa!
Você veio, para ir. Não para escutar meus argumentos, não para abafar meus gritos, não para segurar minhas lágrimas, não para estancar meus sangramentos.
Você veio, para ir… Já foi.
— Você veio, e se foi — SeraphSoul