quarta-feira, 29 de maio de 2013

❝Machado de Assis, em um de seus contos, compara felicidade a uma linda, rica e bem vestida moça, que se doa a quem quiser por um anúncio de jornal. Se tem pele de porcelana, sorriso branco feito neve, beleza quase divina, riqueza suficiente para o dote mais bem pago e a doçura de um anjo, porque é que se anuncia? Porque entrega-se tão facilmente ao primeiro sujeito que a responde o anúncio? Porque uma beleza tão rara como essa procura por um marido num simples folhetim? Só pode ser louca ou ter algum tipo de doença transmissível. Algum defeito essa mulher tem! Ou esconde algum segredo grave ou morre na próxima estação de algo incurável. Ou é uma assassina, maluca, possessiva. E então, é assim que todo pretendente desiste após o primeiro pensamento. Se há algum mistério escondido na moça, melhor não se jogar, fingir que não leu o jornal pela manhã, ignorar que ela existiu por algum segundo. Da mesma forma, ocorre com a felicidade. Belíssima, doce, de graça. Cheia de mistério, anuncia-se para todos, rodeando os pobres, os ricos, os doentes, os loucos. Todos, menos os covardes. Todos, exceto aqueles que têm medo das surpresas por ela trazidas. A felicidade doa-se a qualquer um que simplesmente acredite nela. Mas vai embora, de vestido preto e véu de luto, como uma moça que acaba de perder o futuro esposo e a esperança, quando fechamos a porta com medo do furto ou da morte. Diz adeus, dá um aceno, “é uma pena que não me aceite em sua vida”, e parte. Ainda há quem queira.
— rio-doce

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