domingo, 12 de maio de 2013

Eu deveria estar acostumada, deveria ter previsto que você, assim como todos os outros que passaram por aqui, iria embora. Eu devia, eu sei, mas quando te vi entrar, pensei “alguém que vai ficar”, e realmente, pareceu. Você parecia querer estar aqui, e te deixei entrar e ficar hospedado no melhor quarto, te tratei bem, como nunca havia tratado outro hóspede. Eu me sentia tão sozinha antes de você e contigo aqui fui tão feliz. Você invadiu a casa e a inundou com alegria, com os seus risos e trouxe de volta os meus e eu me rendi, porque cada espaço daquele lar estava preenchido, não havia mais necessidade de outro alguém, havia você. Havia nós. Até o momento em que você se levantou do sofá e com o olhar desbotado seguiu adiante e buscou suas malas, olhei incrédula, calada, enquanto o observava sorrir tristemente e sair pela porta de cabeça baixa. Esperei o baque da porta se fechando, e quando o silencio tomou conta do cômodo, tive a certeza de que a partir daquele dia não deixaria nenhuma brecha, as portas estariam trancadas e as janelas fechadas. Afinal, já não restavam pedaços de mim para serem levados por outras pessoas.”
— Intimizar, Daniela Soares.

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