terça-feira, 31 de dezembro de 2013
segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
Congresso Internacional do Medo
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que estereliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
(Carlos Drummond de Andrade)
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que estereliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
(Carlos Drummond de Andrade)
O MUNDO COMO UM TODO É UM AÇOUGUE DE SOLIDÕES SEM VIGILÂNCIA SANITÁRIA.
Essa solidão não deveria sobreviver. Não pelos motivos que ela vem sobrevivendo a minha vida inteira. É um tiro no escuro escrever sobre tudo aquilo que as pessoas já escreveram, eu sei. O primeiro homem que inventou a palavra “solidão” (deus?) devia saber do que estava falando. Mas eu não sei. São tantas alternativas que já destrincharam toda a carne solitária do mundo e distribuíram entre os bípedes racionais como se fosse alguma preciosidade de conhecimento sentimental. Tudo (e longe de mim querer saber de tudo) não passa de migalhas, sobremesa de quem nunca teve muito o que pensar e mendiga um pouco de sabedoria em cima de óculos, cabelos brancos e entrevistas bem humoradas no programa do Jô Soares. Migalhas que, juntando uma com a outra, se aperfeiçoando na técnica de colagem e remendo, tudo é ainda um pedaço grande e mal cheiroso de carne. Não aguentaria ser vegetariano porque tenho sede de beber alguma espécie de medo. Acho que o medo deixa as coisas mais interessantes. Imagino o medo que bois, vacas, porcos e galinhas sentem antes de terem o crânio massacrado, caso o crânio não seja aproveitável. E dos peixes, que têm suas barbatanas cortadas. Sempre se lembram de suas barbatanas, não de seu cérebro. E cortam suas respirações, obviamente. Deve ser triste ter o seu meio de sobrevivência enfiado no meio da sua liberdade. Aquários são tão baratos, e tão cruéis. O medo de peixes frágeis vivendo em aquários frágeis em cima de móveis frágeis pertencentes a humanos frágeis deve ser gritante, catastroficamente gritante. Se aquela quantidade miserável de água consegue ser o oceano e o Deus daqueles peixes enclausurados, imagino o quão ridículo deve ser o nosso globo terrestre. Porque tudo me lembra um gigantesco aquário. Gigantesco, claro, na sua mediocridade. Medo. É isso o que torna a solidão tão presente nos livros e em seus preços astronômicos, na televisão e em suas reportagens de usuários de crack, na vida e em seus corações de peixes-humanos egocêntricos e narcisistas. Seremos mortos, claro, todos, como um desses bichinhos que estão nas propagandas do Greenpeace. Salvem as baleias. Salvem os cachorros. Salvem os humanos. Estamos sim, esperando o abate. A vida é uma fuga. De não sei exatamente do que. Mas deve ser muito, muito ruim. Uma fuga solitária. Que vença aquele que se adaptar melhor com o reflexo formado nas paredes do aquário (nas paredes de si). Minha solidão não deveria sobreviver pelos motivos que ela sobrevive, porque os motivos são simples: medo de ser multidão e uma vontade gritante de me tornar vegetariano. O problema é que sou sozinho. O problema é que também gosto de churrasco.
(Cinzentos)
Essa solidão não deveria sobreviver. Não pelos motivos que ela vem sobrevivendo a minha vida inteira. É um tiro no escuro escrever sobre tudo aquilo que as pessoas já escreveram, eu sei. O primeiro homem que inventou a palavra “solidão” (deus?) devia saber do que estava falando. Mas eu não sei. São tantas alternativas que já destrincharam toda a carne solitária do mundo e distribuíram entre os bípedes racionais como se fosse alguma preciosidade de conhecimento sentimental. Tudo (e longe de mim querer saber de tudo) não passa de migalhas, sobremesa de quem nunca teve muito o que pensar e mendiga um pouco de sabedoria em cima de óculos, cabelos brancos e entrevistas bem humoradas no programa do Jô Soares. Migalhas que, juntando uma com a outra, se aperfeiçoando na técnica de colagem e remendo, tudo é ainda um pedaço grande e mal cheiroso de carne. Não aguentaria ser vegetariano porque tenho sede de beber alguma espécie de medo. Acho que o medo deixa as coisas mais interessantes. Imagino o medo que bois, vacas, porcos e galinhas sentem antes de terem o crânio massacrado, caso o crânio não seja aproveitável. E dos peixes, que têm suas barbatanas cortadas. Sempre se lembram de suas barbatanas, não de seu cérebro. E cortam suas respirações, obviamente. Deve ser triste ter o seu meio de sobrevivência enfiado no meio da sua liberdade. Aquários são tão baratos, e tão cruéis. O medo de peixes frágeis vivendo em aquários frágeis em cima de móveis frágeis pertencentes a humanos frágeis deve ser gritante, catastroficamente gritante. Se aquela quantidade miserável de água consegue ser o oceano e o Deus daqueles peixes enclausurados, imagino o quão ridículo deve ser o nosso globo terrestre. Porque tudo me lembra um gigantesco aquário. Gigantesco, claro, na sua mediocridade. Medo. É isso o que torna a solidão tão presente nos livros e em seus preços astronômicos, na televisão e em suas reportagens de usuários de crack, na vida e em seus corações de peixes-humanos egocêntricos e narcisistas. Seremos mortos, claro, todos, como um desses bichinhos que estão nas propagandas do Greenpeace. Salvem as baleias. Salvem os cachorros. Salvem os humanos. Estamos sim, esperando o abate. A vida é uma fuga. De não sei exatamente do que. Mas deve ser muito, muito ruim. Uma fuga solitária. Que vença aquele que se adaptar melhor com o reflexo formado nas paredes do aquário (nas paredes de si). Minha solidão não deveria sobreviver pelos motivos que ela sobrevive, porque os motivos são simples: medo de ser multidão e uma vontade gritante de me tornar vegetariano. O problema é que sou sozinho. O problema é que também gosto de churrasco.
(Cinzentos)
Eu não tenho à quem escrever
Eu e o meu lirismo desnecessário. Eu e a minha ânsia de voar. Eu e os meus pés descalços, o meu sorriso desbotado e os meus anéis que machucam a gengiva.
Sobrou isso. O cheiro de um perfume assoprado através dos meses. Dos anos. Das vidas inteiras que ousaram, um dia, caber.
Sobrou eu. Sobrou a peça contestada em três atos tão bonitos e aterrorizantes quanto o próprio existir, o próprio saber cheio de dúvidas de tentar, pensar, não conseguir.
Sobraram as vírgulas, minhas amigas, tão menos dolorosas do que o ponto final. Sobrou a orelha na página virada, o marca texto colorido no passado que eu gostaria de relembrar, mas só relembrar e só de vez em quando. Pra sorrir, não pra chorar.
Sobrou as reticências, os milhares de parênteses no meu livro inacabado. E as notas de rodapé. E as fotos manchadas de sangue. E as cartas rasgadas jogadas ao vento, para longe.
Tenho à quem escrever, tão logo quanto a própria respiração:
eu.
coligir
Eu e o meu lirismo desnecessário. Eu e a minha ânsia de voar. Eu e os meus pés descalços, o meu sorriso desbotado e os meus anéis que machucam a gengiva.
Sobrou isso. O cheiro de um perfume assoprado através dos meses. Dos anos. Das vidas inteiras que ousaram, um dia, caber.
Sobrou eu. Sobrou a peça contestada em três atos tão bonitos e aterrorizantes quanto o próprio existir, o próprio saber cheio de dúvidas de tentar, pensar, não conseguir.
Sobraram as vírgulas, minhas amigas, tão menos dolorosas do que o ponto final. Sobrou a orelha na página virada, o marca texto colorido no passado que eu gostaria de relembrar, mas só relembrar e só de vez em quando. Pra sorrir, não pra chorar.
Sobrou as reticências, os milhares de parênteses no meu livro inacabado. E as notas de rodapé. E as fotos manchadas de sangue. E as cartas rasgadas jogadas ao vento, para longe.
Tenho à quem escrever, tão logo quanto a própria respiração:
eu.
coligir
domingo, 29 de dezembro de 2013
sábado, 28 de dezembro de 2013
quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
❝ Aqueles que pregam amor não têm amor. Cuidado com os pregadores, cuidado com os sabedores. Cuidado com aqueles que estão sempre lendo livros. Cuidado com aqueles que detestam pobreza ou que são orgulhosos dela. Cuidado com aqueles que elogiam fácil, porque eles precisam de elogios de volta. Cuidado com aqueles que censuram fácil, eles têm medo daquilo que não conhecem. Cuidado com aqueles que procuram constantes multidões, eles não são nada sozinhos. Cuidado com o homem comum, com a mulher comum, cuidado com o amor deles. O amor deles é comum, procura o comum, mas há genialidade em seu ódio, há bastante genialidade em seu ódio para matar você, para matar qualquer um. Sem esperar solidão, sem entender solidão eles tentarão destruir qualquer coisa que seja diferente deles mesmos.
— Charles Bukowski.
— Charles Bukowski.
um dia, perguntei para o psiquiatra: sou bipolar? ele me disse: de bipolar você não tem nada. você é sincera e tem sentimentos intensos. e me explicou a origem da palavra sincera, que vem do latim e significa “sem cera”. antigamente, carpinteiros e escultores usavam cera para disfarçar os defeitinhos de esculturas e móveis de madeira. então, eles lixavam, passavam verniz e tudo ficava aparentemente perfeito e em ordem. o aspecto das peças era magnífico. com o passar do tempo, do frio, calor e uso, a cera ia se desmanchando e os defeitos iam ganhando vida. sinceridade é “sem cera”, ou seja, sem máscaras, sem retoques, sem querer ser o que não é. achei bonita a explicação dele. e triste. dói ser “sem cera”.
(clarissa corrêa)
(clarissa corrêa)
segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
domingo, 22 de dezembro de 2013
"Eu sou insaciável! Mal um desejo surge, outro desponta, e em mim há sempre latente a febre do sonho e do desejo, e quando possuo alguma coisa de infinitamente consolador, como é a sua amizade, desejo mais, mais ainda, mais sempre! Conhece-se em mim o afecto, o amor, a ternura por um egoísmo implacável que quer tornar muito meus, e só meus, os corações que se me dedicam um pouco. Dá isto muitas vezes o resultado de me suceder o mesmo que sucedeu ao cão que largou a presa pela sombra, pois querendo muito, muito perdeu."
Florbela Espanca
Florbela Espanca
sexta-feira, 20 de dezembro de 2013
"Você se arrasta pelo tempo,
Tenta esquecer o passado,
Tenta ler as placas de sinalização,
Pega o caminho errado diversas vezes,
Apesar de toda aquela velha orientação,
Desfila por curvas perigosas,
Ama certos monumentos na beira da estrada,
Mas todos se vão quando você decide acelerar,
E você vai por aquela rodovia sem fim,
Esperando um dia encontrar um lugar,
Em que possa ficar e nunca mais partir."
—Nathalia Goulart
Tenta esquecer o passado,
Tenta ler as placas de sinalização,
Pega o caminho errado diversas vezes,
Apesar de toda aquela velha orientação,
Desfila por curvas perigosas,
Ama certos monumentos na beira da estrada,
Mas todos se vão quando você decide acelerar,
E você vai por aquela rodovia sem fim,
Esperando um dia encontrar um lugar,
Em que possa ficar e nunca mais partir."
—Nathalia Goulart
NOTAS DE UM PSICÓTICO IV
Não dormi nada durante essa noite, senhor.
Roubei uma constelação inteira e escondi todas as estrelas no meu vazio.
Não me preencheu, senhor
tampouco me fez brilhar…
As estrelas se apagaram, a escuridão as engoliu.
Parece impossível, mas não é, senhor
no meu céu é mais noite que dia.
O sol quase nuca aparece…
E nem é inverno ainda.
por h.c.
Não dormi nada durante essa noite, senhor.
Roubei uma constelação inteira e escondi todas as estrelas no meu vazio.
Não me preencheu, senhor
tampouco me fez brilhar…
As estrelas se apagaram, a escuridão as engoliu.
Parece impossível, mas não é, senhor
no meu céu é mais noite que dia.
O sol quase nuca aparece…
E nem é inverno ainda.
por h.c.
Não existe meio termo para aeroportos: ou são tristes demais, ou são felizes demais. Nunca é meio-feliz ou meio-triste. Aeroportos simbolizam a chegada do sorriso ou a partida dele, entende? Já vi muita gente sair por aquela porta de desembarque, cuspindo alegria e cheios de abraços confortantes, assim como já vi muita gente entrar pela mesma porta, carregados de lágrimas e saudade. Acho que ninguém nunca havia parado pra pensar em algo tão idiota, mas ontem, a caminho do aeroporto, eu parei. Era madrugada, mas o céu já estava sofrendo a sua metamorfose radiante, mudando do negro escuro pro laranja ácido. O voo estava marcado pras 6:15 da manhã. Seis hora e quinze minutos levariam um pedaço do meu coração. Nunca tinha odiado tanto um aeroporto quanto aquele instante. Nunca, em todas as histórias que já passei nesse lugar onde aviões decolam e aterrizam, me senti tão quebrada por dentro. É isso: aviões nunca descolam sem aterrizar, assim como não aterrizam sem uma hora decolar outra vez. Meu coração trincava a cada barulho de turbina que se ouvia naquele lugar. As lágrimas saltavam dos meus olhos a cada vez que os alto-falantes citavam que era a-ultima-chamada-pro-voo-5996, embarque imediato. Imediatamente o chão de abriu. Malas e mais malas eram depositadas naquela esteira infinita, enquanto tudo o que se ouvia era o eco corrosivo pelos corredores lotados. Tanta gente. Tantas famílias, histórias, pressa e calmaria em um mesmo tom. Pessoas ansiosas pra voltar pra casa; pessoas tristes ao sair dela. Pessoas se despedindo com data pra voltar; pessoas sem data pra voltar ao se despedir. Pessoas que vieram passar as férias na minha cidade; outras que cansaram de passar as férias aqui. Check-ins realizados, sonhos ainda inacabados, hora de partir. Aeroportos - lotados ou vazios - nunca são cem por cento tristes assim. Enquanto uma mãe chora porque a filha vai fazer faculdade em uma cidade distante, outra sorri porque o filho voltou da viajem de formatura. São em aeroportos que os abraços mais calosos são dados, assim como os beijos mais cheios de desejo. E tudo é cinza demais ou colorido demais. Eles podem levar o seu coração embora. Ou podem devolvê-lo a você.
— Capitule, aeroportos são o porto de alguém.
— Capitule, aeroportos são o porto de alguém.
Quero alguém que olhe em meus olhos e veja uma floresta em chamas, que muitas vezes precisa de ajuda para ser apagada. Alguém que perceba que eu preciso de ajuda quando eu estou em silêncio. Alguém que me deixe sobre meus próprios pés algumas vezes para voar sozinha para que eu experimente as quedas, sabendo que não me deixará cair. Alguem que me entenda no meio do silêncio, apenas com um olhar. Alguém que perceba meus sorrisos, e saiba cuidar de cada um deles. Quero alguém que me ame pelo que tenho e principalmente, pelo que me falta.
— Bruno Grey.
— Bruno Grey.
Só fecho os olhos e espero. Porque a espera é um dom, e a paciência é a virtude que tento aprender, já que não veio do ventre comigo. Eu só busco manter a mente ocupada nos poucos momentos em que posso deixá-la livre, para que assim pensamentos ruins ou devaneios não me invadam naturalmente. Deixo tudo com o tempo, o alinhamento dos planetas, a sorte, O Criador, os ventos. Já sou lotada de preocupações básicas e, do resto, o universo cuida. Em todos esses anos aprendi que o nosso ninguém tira. O que tiver que acontecer, acontecerá de qualquer jeito. Podem tentar burlar, jogar pregos no caminho, me fazer tropeçar. Pode demorar o tempo que for, o que é para ser, sempre será. E é por isso que eu aguardo por aquilo que não posso alterar ou fazer valer. Espero por aquilo que, no momento, minhas mãos não alcançam. Quem sabe um dia a maré traga-me um banquinho. Por isso, solto aquilo que não mais consigo segurar. Sei que, se for meu, a brisa um dia há de me carregar junto. Eu só… fecho os olhos e abro o peito. E espero ,com toda a fé do mundo, a minha hora para tudo.
— rio-doce
— rio-doce
quinta-feira, 19 de dezembro de 2013
terça-feira, 17 de dezembro de 2013
segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
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