sábado, 22 de fevereiro de 2014

Holocausto dos drafts

as quinas, os cheiros, as vozes e as coisas não ditas moram onde nenhum livro e nenhuma cifra (ou cifrão) pode detalhar. a dor é uma propriedade publicamente singular, ou singularmente publica - de todo mundo mas só minha. incomoda o vazio de desconhecer os porquês da vida e incomoda perder. talvez os estudos e as teses e a fé e os cabos dos laboratórios científicos que procuram incessantemente respostas para cada lacuna um dia percebam que viver é, principalmente, perder. Saramago deixou: tudo o que começa nasce do que acabou.

eu sei, algumas barreiras para quebrar e alguns limites para respeitar. há uma ponte na parte remota e envergonhada do meu peito que me arrependo de ter cruzado. o gosto de querer se matar por não conseguir parar de pensar e ir fundo e fundo e cada vez mais fundo em acusações particulares e lembranças ruins permanece em conserva no canto da boca, como um bilhete. você aprende, de qualquer forma, a se respeitar.

vinte e quatro meses atrás escrevi o que escrevo agora: medo. o medo pode ser Zeus ou Hades, pode drenar suas asas ou deformar seu cérebro. barreira e limite, âncora e vela. andar, andar, andar e continuar perdido. qual o preço do oásis? meu grito de socorro é pouco mas é tudo que tenho. quiçá eu possa descansar no ácido da sua língua e te ligar pedindo por paz e paz, paz, paz, só paz. te escrever uma carta definitiva - com inúmeras alternativas - e rir do nascer do sol, amar a rua da sua casa. quiçá eu coloque fogo no rascunho do que seremos, ou num pneu em frente a Prefeitura. a revolução parte simultaneamente de pontos remotos e um deles deve ser nós dois.

cruzar as pernas e acender um cigarro é a melhor idiossincrasia que se compra no mercado. eu vi, daqui dois mil anos a tristeza ainda fará parte dos livros de História e esse elefante acinzentado posto no meio da sala continuará me atrapalhando a assistir TV.


Yasmin (uma festa pro meu câncer)

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