Temo pelo leite derramado, pela noite mal dormida e pelo corpo mal amado que espera uma saída. O último gole me atormenta, o último trago me maltrata, o último beijo pesa tanto que nem sei como não me mata.
Ando vendo seus lábios nas quinze rachaduras do meu assoalho. Tenho visto seus olhos nos vinte e nove furos do meu teto preto. De que me valem os princípios da sanidade se os fins da loucura me são mais presentes? De quanto tempo preciso para entender que é falho o nosso quociente?
Hoje era dia de visitar os velhos costumes do meu passado, procurar alguma disposição e todo o resto que me tem faltado. Mas ainda é madrugada, há muito tempo é madrugada, desde Janeiro é madrugada, estamos chegando a Outubro e nada.
Levanto-me como se fosse desistir e deito-me como se fosse adiantar. Esperneio como se fosse sorrir e gargalho como se fosse chorar. Leio como se fosse ouvir e ouço como se fosse cantar.
Mas no fim das contas nada, nada da madrugada passar.
-Fellipo Rocha
terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
sábado, 22 de fevereiro de 2014
sensações de estar preso fisicamente no mundo. como se tivesse algo retido e que não saí. como se por dentro, houvesse um mundo. vontades descompensadas de sentir o fundo. de pisar na Terra e descobrir os cheiros que tem o aroma do vento lunar, qualquer coisa infinita que arrebente meu corpo e liberte a natureza brutal que vive em mim e que ela corra pela mata, pelo chão, pelo mar, como trovão. {my body is a cage that keeps me from dancing with the one I love.} meu corpo quer ser livre. mas sente que a liberdade que quer sentir não é palpável ou alcançável.
meu corpo quer beijar o teu escuro.
quer explodir no teu vazio.
quer amar o intocável.
arder em órion
queimar por dentro
-Caosmoss
meu corpo quer beijar o teu escuro.
quer explodir no teu vazio.
quer amar o intocável.
arder em órion
queimar por dentro
-Caosmoss
Holocausto dos drafts
as quinas, os cheiros, as vozes e as coisas não ditas moram onde nenhum livro e nenhuma cifra (ou cifrão) pode detalhar. a dor é uma propriedade publicamente singular, ou singularmente publica - de todo mundo mas só minha. incomoda o vazio de desconhecer os porquês da vida e incomoda perder. talvez os estudos e as teses e a fé e os cabos dos laboratórios científicos que procuram incessantemente respostas para cada lacuna um dia percebam que viver é, principalmente, perder. Saramago deixou: tudo o que começa nasce do que acabou.
eu sei, algumas barreiras para quebrar e alguns limites para respeitar. há uma ponte na parte remota e envergonhada do meu peito que me arrependo de ter cruzado. o gosto de querer se matar por não conseguir parar de pensar e ir fundo e fundo e cada vez mais fundo em acusações particulares e lembranças ruins permanece em conserva no canto da boca, como um bilhete. você aprende, de qualquer forma, a se respeitar.
vinte e quatro meses atrás escrevi o que escrevo agora: medo. o medo pode ser Zeus ou Hades, pode drenar suas asas ou deformar seu cérebro. barreira e limite, âncora e vela. andar, andar, andar e continuar perdido. qual o preço do oásis? meu grito de socorro é pouco mas é tudo que tenho. quiçá eu possa descansar no ácido da sua língua e te ligar pedindo por paz e paz, paz, paz, só paz. te escrever uma carta definitiva - com inúmeras alternativas - e rir do nascer do sol, amar a rua da sua casa. quiçá eu coloque fogo no rascunho do que seremos, ou num pneu em frente a Prefeitura. a revolução parte simultaneamente de pontos remotos e um deles deve ser nós dois.
cruzar as pernas e acender um cigarro é a melhor idiossincrasia que se compra no mercado. eu vi, daqui dois mil anos a tristeza ainda fará parte dos livros de História e esse elefante acinzentado posto no meio da sala continuará me atrapalhando a assistir TV.
Yasmin (uma festa pro meu câncer)
eu sei, algumas barreiras para quebrar e alguns limites para respeitar. há uma ponte na parte remota e envergonhada do meu peito que me arrependo de ter cruzado. o gosto de querer se matar por não conseguir parar de pensar e ir fundo e fundo e cada vez mais fundo em acusações particulares e lembranças ruins permanece em conserva no canto da boca, como um bilhete. você aprende, de qualquer forma, a se respeitar.
vinte e quatro meses atrás escrevi o que escrevo agora: medo. o medo pode ser Zeus ou Hades, pode drenar suas asas ou deformar seu cérebro. barreira e limite, âncora e vela. andar, andar, andar e continuar perdido. qual o preço do oásis? meu grito de socorro é pouco mas é tudo que tenho. quiçá eu possa descansar no ácido da sua língua e te ligar pedindo por paz e paz, paz, paz, só paz. te escrever uma carta definitiva - com inúmeras alternativas - e rir do nascer do sol, amar a rua da sua casa. quiçá eu coloque fogo no rascunho do que seremos, ou num pneu em frente a Prefeitura. a revolução parte simultaneamente de pontos remotos e um deles deve ser nós dois.
cruzar as pernas e acender um cigarro é a melhor idiossincrasia que se compra no mercado. eu vi, daqui dois mil anos a tristeza ainda fará parte dos livros de História e esse elefante acinzentado posto no meio da sala continuará me atrapalhando a assistir TV.
Yasmin (uma festa pro meu câncer)
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014
"Eu tento limpar o meu estoque de ar que sai aqui de dentro para que ele não seja tão pesado, entende? Eu não quero que respirem a minha poluição, porque a tristeza de cada um já é o bastante em si. Mas a gente é assim, não é? Meio inconsequente. Tranca o ar, mas respira o de todo mundo. Às vezes, até mais o dos outros do que o nosso próprio. Por isso engasga, tosse, molha os olhos. Por isso se perde daqui, dali, de si. Nessa perda eu sou boa, quase como na falta de ar. Não quero ser o lado ruim da força, a corda que arrebenta. Mas eu sou, ah, eu sou… Eu só sou. É por essas e outras que o ar quase não passa por mim. Tropeço quase sem força para caminhar, e é assim com todo mundo. Quando falta o ar, é porque a vida começou a sobrar naquele copinho d’água que teima em transbordar."
— Camila Costa.
— Camila Costa.
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
domingo, 16 de fevereiro de 2014
terça-feira, 11 de fevereiro de 2014
Talvez seja amanhã:
Nunca entendi por que ela calou a boca. Falava tanto, aquela menina. Tinha uma capacidade qualquer de expressar as coisas que eu sempre quis jogar no vento, mas nunca tive muita coragem. Possuía um estilo literário pobre, é verdade, mas me agradava até mesmo a sua pouca habilidade.
Num dia desses me perguntei o que fizeram com ela para que se tornasse tão soturna. Não dizia mais coisa alguma sobre o que havia por dentro, e passou a ser meio pobre por fora. Não sei, tive a impressão de que podaram qualquer coisa em sua alma.
Clécio disse que não, que ela apenas tinha se cansado e deixado para lá. Que não via mais propósito em ficar tentando escrever frases de impacto. Larissa disse que a culpa foi daqueles que achavam que tudo que ela rabiscava era verdade. “Foi falta de licença poética”, jurou olhando nos meus olhos certa vez.
Quanto ao que acho, não sei… Acho que foi um pouco de tudo isso. Mas também acho que qualquer dia desses ela vai se sentar e dar um banho de água fria na alma da gente. Deixa só ela pegar naquela caneta.
-Emi (iemai.com.br)
Num dia desses me perguntei o que fizeram com ela para que se tornasse tão soturna. Não dizia mais coisa alguma sobre o que havia por dentro, e passou a ser meio pobre por fora. Não sei, tive a impressão de que podaram qualquer coisa em sua alma.
Clécio disse que não, que ela apenas tinha se cansado e deixado para lá. Que não via mais propósito em ficar tentando escrever frases de impacto. Larissa disse que a culpa foi daqueles que achavam que tudo que ela rabiscava era verdade. “Foi falta de licença poética”, jurou olhando nos meus olhos certa vez.
Quanto ao que acho, não sei… Acho que foi um pouco de tudo isso. Mas também acho que qualquer dia desses ela vai se sentar e dar um banho de água fria na alma da gente. Deixa só ela pegar naquela caneta.
-Emi (iemai.com.br)
'Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem; pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada.'
(Eduardo Alves da Costa)
Na segunda noite, já não se escondem; pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada.'
(Eduardo Alves da Costa)
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
"Às vezes compreendo, assim do nada, como num lapso ou como se deus baixasse uma memória antiga, às vezes compreendo assim, meio sem querer, como se a coisa toda fosse dolorosa - e ela é, ela pulsa e é uma verdade intragável e que escrever não alivia -, como se eu, mesmo se soubesse, não quisesse engolir. E eu realmente não engulo. Às vezes compreendo, comprimindo minhas pernas com as mãos antes de dormir, neste calor fervoroso paulistano, e entendo, entendo mesmo, assim de verdade, que estou ficando cada vez mais eu comigo, eu sozinho, eu só dentro de tudo, pertencente aos lugares mas sem saber tocá-los, dirigi-los, sê-los. Sou nada não, sou antes um passageiro de ônibus lotado é só mais um sentado próximo à janela esperando o sol bater no rosto. Suo e sou mais um sentado nos bancos do metrô, sob os telhados dos apartamentos da rua augusta, dentro dos bailes, por cima dos trilhos, que ninguém pára, desce, e agarra a solidão. Ninguém diz que quer que ela vá embora porque, se ela for, assim, de repente, fica-se tudo e o todo, e não sobra nada. Foi então que compreendi que, se eu subtraísse todos os meus sonhos, todos os meus desejos e todas as minhas vontades patéticas, humanamente patéticas, não me restaria nada. Lembro de ter lido drummond que dizia “entre a dor e o nada, o que você escolhe?” e compreendi. Passei por tantos choques de realidades, desses amores que a gente entrega nas mãos mas que voam, transformam-se, camuflam-se, renegam-se; tantos buracos em que afundei meus pés e fiquei lá embaixo gritando; e tanta lágrima que forcei pra pular dos meus olhos como se a dor fosse de uma poesia que me salvaria. Mas salvou não. Às vezes compreendo, como se eu soubesse, que tudo não passa de um medo, um medo enorme, um medo assustador de ficar sozinho e não ter pra quem pedir socorro quando as pernas gangrenarem, quando o suor for afogo e as palavras já não cobrirem este mesmo nada, este mesmo vazio que fica sobra está. Em tudo. Agora entendo e até assimilo que o que eu sentia era fuga, detenção, assombro, falta de paz comigo mesmo. Buscava em outras pessoas alguma sobrevivência, alguma suposta calmaria que eu não dava a mim mesmo. Tirava dos outros o brilho, e a luz que eu não me proporcionava. Então, então eu compreendi. Que a grande lacuna (e machado diz isso: e falta eu mesmo, e essa lacuna é tudo) era a de mim com os meus interiores. Com a falta de mim em mim, que estava tão ausente. Às vezes compreendo meu erro e de repente, já não preciso me refugiar nos braços daqueles que invento. E já não existe o grande amor da minha vida porque eu sei que ele é irreal. E já não existe a pessoa que jamais olhará para os meus defeitos, porque os defeitos são calos construídos na pele para serem vistos. E entendo que drummond, supondo que a dor é mais válida do que o nada, quis dizer que poderíamos escolhê-la como escape. Desculpe poeta, desculpe mas o nada que eu tenho, agora, diz muito mais sobre mim que algum dia eu quis saber. E saber de mim e de tudo o que me escapa, é essencial. Como numa memória divina ou como num soco nos dentes, que seja."
- Floresinexatas.
- Floresinexatas.
domingo, 9 de fevereiro de 2014
O médico disse: apenas uma dose de amargura logo antes de deitar pra apaziguá-la a noite inteira, porque o teu corpo não aguenta mais. Daí que eu tomo duas, três, talvez até umas quatro ou cinco durante o dia, que dura mais do que devia durar. E não apazígua, não, só atormenta e atropela. E eu fico pensando: ô meu Deus, quanto mais o corpo vai durar? Ô meu Deus, quanto mais até a mente padecer e o coração fechar?
O médico disse que faria bem exercitar o coração, pra variar, antes que a mente enlouqueça. Mas eu me encaixo muito bem no sofá, sozinha, pronta pra deitar na cama de agonia. Não existem ideias que eu não quisesse chorar e dores que eu não quisesse gritar. Tem noites que até respirar dói, antes de dormir. E a ideia de cair é tão bonita quanto a de não mais levantar.
O médico disse que a tristeza também é droga, só não é de injetar.
-Coligir
O médico disse que faria bem exercitar o coração, pra variar, antes que a mente enlouqueça. Mas eu me encaixo muito bem no sofá, sozinha, pronta pra deitar na cama de agonia. Não existem ideias que eu não quisesse chorar e dores que eu não quisesse gritar. Tem noites que até respirar dói, antes de dormir. E a ideia de cair é tão bonita quanto a de não mais levantar.
O médico disse que a tristeza também é droga, só não é de injetar.
-Coligir
O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê!
Florbela Espanca
Florbela Espanca
Andava com mania de suicídio e com crises de depressão aguda; não suportava ajuntamentos perto de mim e, acima de tudo, não tolerava entrar em fila comprida pra esperar seja lá o que fosse. E é nisso que toda a sociedade está se transformando: em longas filas à espera de alguma coisa. Tentei me matar com gás e não consegui. Mas tinha outro problema. Levantar da cama. Sempre tive ódio disso. Vivia afirmando: “as duas maiores invenções da humanidade foram a cama e a bomba atômica; não saindo da primeira, a gente se salva, e, soltando a segunda, se acaba com tudo”. Acharam que estava louco. Brincadeira de criança, é só disso que essa gente entende: brincadeira de criança - passam da placenta pro túmulo sem nem se abalar com este horror que é a vida.
Sim, eu odiava ter que me levantar da cama de manhã. Significava que a vida ia recomeçar e depois que se passa a noite inteira dormindo cria-se uma espécie de intimidade especial que fica muito mais dificíl de abrir mão. Sempre fui solitário. Você vai me desculpar, creio que não regulo bem da cabeça, mas a verdade é que, se não fosse por uma que outra trepadinha legal, não me faria a mínima diferença se todas as pessoas do mundo morressem. É, eu sei que isso não é uma atitude simpática. Mas ficaria todo refestelado aqui dentro do meu caracol. Afinal de contas, foram essas pessoas que me tornaram infeliz.
Charles Bukowski
Sim, eu odiava ter que me levantar da cama de manhã. Significava que a vida ia recomeçar e depois que se passa a noite inteira dormindo cria-se uma espécie de intimidade especial que fica muito mais dificíl de abrir mão. Sempre fui solitário. Você vai me desculpar, creio que não regulo bem da cabeça, mas a verdade é que, se não fosse por uma que outra trepadinha legal, não me faria a mínima diferença se todas as pessoas do mundo morressem. É, eu sei que isso não é uma atitude simpática. Mas ficaria todo refestelado aqui dentro do meu caracol. Afinal de contas, foram essas pessoas que me tornaram infeliz.
Charles Bukowski
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
Por esses amores que ateiam fogo no meu corpo sem a pretensão de me deixar queimar.
Ele sentou-se na calçada,
com olhos voando para longe,
jogando fogo e gasolina dentro de mim.
A chama já queimava
em todos os espaços cabíveis
e não cabíveis que existe em alguém.
Eu gritei por minutos,
minha súplica fora baixa,
não podia ser aclamada.
Depois eu ri,
ri tão alto que a vizinhança inteira
poderia acordar e rir comigo.
Porque a insanidade era só uma parte da combustão.
-Penejar.
com olhos voando para longe,
jogando fogo e gasolina dentro de mim.
A chama já queimava
em todos os espaços cabíveis
e não cabíveis que existe em alguém.
Eu gritei por minutos,
minha súplica fora baixa,
não podia ser aclamada.
Depois eu ri,
ri tão alto que a vizinhança inteira
poderia acordar e rir comigo.
Porque a insanidade era só uma parte da combustão.
-Penejar.
Ser mais fato. Sem metáforas induzindo ao erro. Com chances de algo concreto, incrédulo ou meticuloso. Com poucas derrotas, os sonhos corriqueiros. Com um coração grande mesmo em um mundo pequeno. Em meio a palavras que não valem nada, ser mais ato do que translúcidos pioneiros que se perdem nos lábios, ou verdades que se perdem nos medos. Ser lucidez. Lucidez que a alma quer cegar. Vomitar dos sonhos, o vínculo que controla as ações das saudações. Ter o fogo que o desejo infame controla. Passar da bobagem para algo mais sério, o destino que o sabor reserva ao ar. Ser tempo. Pigmentos de uma esperança perdida, quando o momento escapa das mãos e te devora com o ímpeto de ruir. Ser a ruína. Magoar o que tem dentro. Decorar o nudismo que vem da arte e fazer da vida uma insônia que lê, que acalma. Ser confiança, colocar o coração antes da aleivosia. Amar mais, ser sorriso, ser mania. Ferver de saudade. Exalar um egoísmo bonito, tranquilo e curado. Da cura que traz a falta, mas emana o sorriso que se foi. Sê. Ferida ilícita. Sua liberdade é infinita. A sua febre é efêmera. Só basta ser. Transpareça.
— Epigrafar, 1853.
— Epigrafar, 1853.
Isso não é sobre o amor, sobre saudade. Isso é sobre autodestruição. É sobre estar sobrevivendo, não vi vivendo. É sobre ter que acordar sem achar nenhum sentido na vida, sem ter nenhuma vontade de viver. É sobre ter um dia achado que as coisas pudessem melhorar, pudessem se ajeitar, mas estar errada como sempre. É sobre perder a fé em si, é sobre a morte parecer uma saída melhor. É sobre ter que aguentar tudo, quando simplesmente quer jogar tudo pro alto e deixar que tudo exploda, porque já não aguenta mais lutar numa batalha já perdida. É sobre não ter esperança, é sobre desistir.
(msh)
(msh)
terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
Pros meus olhos sensíveis, V., toda estrela é constelação e todo pingo é tempestade. Eu agito a percepção, eu amplifico os ouvidos e estico as mãos. Eu causo no caos alguma intervenção, interajo, interponho, intercepto. Gravo no pulso o ritmo de tudo o que me desperta, tudo o que me aperta e exige. Reclamo quando sou colocada contra a parede porque a minha inconstância vibra louca e quase explode, mas essa força é também a minha força, essa força que reclama para si toda a energia e pressão, essa força que se faz sentir. A minha arte é absurda, V., e isso não me é incômodo. A minha arte é um reflexo e eu exponho o corpo, a carne, os ossos, diante dos espelhos, das poças, das rachaduras. Das palavras. Eu não entendo de defesas porque sou um ataque, um surto, um grito incerto. Eu não entendo de defesas e a minha ofensiva é poesia.
Claudia Calado
Claudia Calado
domingo, 2 de fevereiro de 2014
sábado, 1 de fevereiro de 2014
"Você se arrasta pelo tempo,
Tenta esquecer o passado,
Tenta ler as placas de sinalização,
Pega o caminho errado diversas vezes,
Apesar de toda aquela velha orientação,
Desfila por curvas perigosas,
Ama certos monumentos na beira da estrada,
Mas todos se vão quando você decide acelerar,
E você vai por aquela rodovia sem fim,
Esperando um dia encontrar um lugar,
Em que possa ficar e nunca mais partir."
Tenta esquecer o passado,
Tenta ler as placas de sinalização,
Pega o caminho errado diversas vezes,
Apesar de toda aquela velha orientação,
Desfila por curvas perigosas,
Ama certos monumentos na beira da estrada,
Mas todos se vão quando você decide acelerar,
E você vai por aquela rodovia sem fim,
Esperando um dia encontrar um lugar,
Em que possa ficar e nunca mais partir."
-Goteira
Nota sobre ser anti-social XVI
Há três tipos de solidão, aquela propriamente dita, em que você está decididamente sozinho no mundo, aquela em que você se encontra externamente rodeado de pessoas, mas por dentro é como um deserto. E tem a minha, que é um mix das duas e mais uma dose de uma outra não citada, aquela em que você não pertence nem a si mesmo.
Mas o fato é que não importa o tipo, todas machucam na mesma intensidade, o que diferencia-se é o que se faz para curar a dor.
SANTOS, Ana Carolina
Mas o fato é que não importa o tipo, todas machucam na mesma intensidade, o que diferencia-se é o que se faz para curar a dor.
SANTOS, Ana Carolina
Acho que você tem medo de ser feliz, Emma. Parece que pensa que o caminho natural das coisas na sua vida é ser triste, sombria e macambúzia, e odiar seu emprego, odiar o lugar onde mora e não ter sucesso nem dinheiro, e Deus a livre de um namorado (e uma pequena digressão aqui: esse negócio de não se achar bonita está ficando chato, vou te dizer). Na verdade vou mais longe: acho que você gosta de se sentir frustrada e ter menos do que queria ter, porque isso é mais fácil, não é?
Livro :Um Dia
Livro :Um Dia
Ela não reage, não me responde nada, só fica escondendo o rosto, coisa que eu encaro como um sim. E aí eu levo o pé que estava na minha mão até minha boca, e vou admirando e chupando cada parte da sua pele, os dedos sinuosos e elegantes, o calcanhar levemente esfolado da sandália, o ossinho interno do tornozelo, as canelas cujos cabelinhos de um dia atritam com minha barba de oito dias. Paro nos joelhos e os mordisco um por vez, ela não consegue se mexer e só sabe chorar, chorar, chorar baixinho. Não porque ela não quer que a coisa aconteça, mas porque o que vai acontecer é bom, e ela não sabe mais o que fazer com o resto da vida que tem.
Gabito Nunes
Gabito Nunes
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