domingo, 24 de fevereiro de 2013

“O que nós somos agora? Porque eu me lembro bem do que nós éramos. Lembro de como éramos e de como queriamos ser. Mas e agora? Eu sinto como se não te reconhecesse. Como se a pessoa que eu conheci há alguns meses tivesse mudado totalmente de personalidade. E olha que a gente parecia conhecer um ao outro melhor do que a si próprio. Eu achei que sabia sobre todas as suas manias, seus hábitos estranhos e seus medos mais infantis. Mas você deve ter deixado de me contar alguma coisa pelo caminho ou soube esconder muito bem algumas coisas de mim. Agora a gente não passa de meros conhecidos. E é horrível ter que denominá-lo como passado. Ter que fingir que nunca aconteceu, que não foi bom e que eu não te conheço mais. Porque eu conheço ou pelos menos tive a impressão de conhecer parte de alguma coisa sua. Mesmo que a mínima possível. Você me cumprimentava com beijo na testa, abraço apertado, rodopiava ou só falava aquele “oi” estendido e preguiçoso. Hoje em dia finge que não me viu, atravessa a rua e de vez em nunca acena com a cabeça. Será que eu virei uma estranha pra você também? Será que você também não reconhece quem eu sou agora? Porque eu também mudei. Parei de esperar você voltar como fazia depois daquelas discussões sem motivos aparentes. Eu mudei. Parei de comer de madrugada e comecei a malhar. Parei de deixar tudo pra última hora, também não tenho mais o hábito de dormir de meias e agora eu já não tenho tanto medo da chuva. Eu não sou mais tão neurótica quanto ao meu peso e já parei de morder o lábio compulsivamente. Finalmente, larguei do refrigerante e bebo água diariamente, do jeito que você sempre sonhou. É, você perdeu uma grande evolução. Mas e aí? Você continua tomando café gelado? Continua dormindo sem travesseiro e já perdeu o medo de lagartixas? Você continua com aquele cheiro de shampoo barato no cabelo? Continua sorrindo pra todos os vizinhos e parou de fazer piadas idiotas? Perdeu a mania de rir nas horas erradas? E aprendeu finalmente a tomar seu remédio pra alergia na hora certa? Me conta. Você não tem mais nenhum pouco do que tinha quando eu estava na sua vida? Não restou nada do que éramos? Não restou nada de mim com você? Nenhum fio de lembrança, nem o som da minha risada? Porque tem tanta coisa sua aqui em casa ainda. Tem seu perfume, três camisas e toda uma vontade de correr pra você agora, nesse momento. Mas antes me responde, o que é que nós somos agora? Quem nos tornamos? Somos nós ainda? Eu e você como antes ou só duas pessoas estranhas? Porque se a resposta for a primeira opção, eu corro daqui até ai em dois tempos. E caso ela seja a segunda opção, eu tô indo de qualquer jeito. Porque adoraria te conhecer de novo.”
Gabriela Machado.

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