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segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
O nome dele era Rafael, e o dela Ana Maria. Ela nunca foi de falar dele para as pessoas, diz ela que era por medo! “Eu sou a pessoa mais insegura que você conhece, ou que não conhece, e ele era muito apaixonante, primeiro porque ele vivia com a barba por fazer. Depois porque, bem, eu não sei explicar com palavras, vou tentar, aliás, vou te provar contando a nossa história.” – Continuou ela. Assim que ela começou a contar seus olhos se encheram de lágrimas. Ela se recompôs, e recomeçou: “Ele era lindo, olhos azuis, cabelos negros, e pele branca, mas naquela época eu tinha 12 anos, e nem pensava em namorar, ou ficar, e a beleza dele não era o bastante pra me atrair. Ele tinha 14 e estava nessa fase. Até tentou comigo, mas não teve chance. Eu não queria, e por causa da insistência dele fiquei dois meses sem ir brincar lá na frente de casa. Só voltei porque ele foi à minha casa se desculpar, e falar que não queria que eu parasse de ir lá só por causa dele. Desculpas aceitas! Eu disse. E voltei a ir brincar. Nós não éramos amigos, não no sentindo mais profundo da palavra, mas sabíamos nos divertir juntos. Até que começamos a conversar com mais frequência, ele vivia metido em enrascadas com as peguetes dele, e eu sempre o aconselhando, falando pra ele como sair dos labirintos em que ele se metia, porque por mais nova que a minha idade indicava que eu era, eu sempre fui madura. Mentalmente, sempre aparentei ser mais velha, e ele dizia me admirar por isso. E eu sorria. E ele me encantava. E eu gostava cada vez mais de estar com ele. E ele disse pela primeira vez que eu era a melhor amiga dele. E eu fiquei pensando, porque nem vi isso acontecer, nem reparei que a consideração que ele tinha por mim era recíproca, quando ele disse, eu só me peguei falando sem pensar duas vezes: “E você é o meu melhor amigo!” Foi assustador, e eu não sabia aonde enfiar a minha cara. Eu era um pouco tímida, ele também, então ficamos completamente sem graça diante da situação, e então começamos a rir como duas crianças, afinal, éramos duas crianças. Passaram-se três anos que nós éramos melhores amigos, e se eu disser pra você que nesses três anos não demos sequer um abraço você não acreditaria, mas é a verdade. No aniversário dele, ou no meu, entregávamos o presente, e apertávamos as mãos. Era só isso. Na época de Páscoa ele sempre me dava chocolate, acho que eu dei apenas uma vez a ele. E ele nunca se importou, nunca jogou o fato dele me dar mais presentes do que eu dava a ele, na minha cara. Eu não sabia que numero de calçado ele usava, não sabia se ele usava P ou M, G eu tinha certeza que não porque era óbvio. E também não sabia o número que ele usava de calça ou bermuda, tanto que uma vez vi uma bermuda que achei a cara dele, a comprei, mas não sabia se serviria, e não serviu. Ele a tinha até acontecer o que aconteceu.” Ela faz uma pausa, seus olhos se entristecem, ela respira fundo, e continua. “Uma vez eu dei chocolate preto a ele, porque todo mundo gosta de chocolate preto, aliás, todo mundo não. Porque ele não gostava. E isso me deixou extremamente irritada, porque foi logo depois de eu ter dado a bermuda pequena a ele. Eu disse pra ele: “Não sei que tipo de melhores amigos nós somos, só sei que é um tipo muito estranho, porque eu não sei que numero você veste, não sabia que odiava chocolate preto.” Ele riu tanto, até perceber que eu não estava com graça, quando percebeu ele disse: “Você não sabe que numero eu visto, ou que não gosto de chocolate branco porque isso pessoas comuns sabem, uma pessoa qualquer sabe disso, e você não é uma pessoa qualquer, você é a minha melhor amiga, e você ocupa a sua mente guardando o essencial sobre mim.” Pode parecer tolo, ou besta, pode ser que o seu melhor amigo tenha lhe dito palavras mais bonitas, mas vindo dele, bem, é quase inacreditável que isso tenha vindo dele. E o melhor é que enquanto ele dizia isso, seus olhos brilhavam com duas estrelinhas. Ah, falando em estrelas, nós tínhamos uma estrela. Sério! E nós gostávamos de achar que estávamos sempre olhando pra ela, apesar de termos certeza de que quase nunca era a mesma. Éramos bem constantes na vida um do outro, até que ele terminou o terceiro ano, e teve que começar a fazer faculdade e a trabalhar, sem contar que ele tinha que fazer carteira de habilitação, ou seja, ele não tinha mais tempo nem pra tomar banho. Verdade. Ele que amava tomar banho, passou a tomar dois banhos por dia, quando saia de casa pela manhã, e quando chegava da faculdade, à noite. Eu sei disse, porque quando fui cobrar atenção dele, foi o que ele me disse. E eu acreditei. Porque eu sabia do amor dele. Ele me garantia o amor dele, e não era com palavras se você quer saber. Ah, e daí em diante ele começou a me abraçar. Toda vez que nos víamos, nos abraçávamos. Depois do abraço as coisas foram só avançando, eu passei a o ver sem camisa, até de ceroula eu o vi algumas vezes. Ele tinha um corpo lindo, tão lindo quanto era seu rosto. Enfim, ele me contou que estava apaixonado. “Ah, só mais uma!” – Eu pensei. Mas não era só mais uma, porque se passou pouco mais de um ano, e essa só mais uma ainda se infiltrava nas nossas conversas. E o pior é que ele não me dizia o nome dela. Bem, um dia eu cheguei na casa dele, ele morava com os pais, e como de costume, entrei sem bater palma, ele tinha um cachorro, mas ele me conhecia bem, e nunca avançou em mim. Eu sempre entrava de fininho pra descobrir o que ele estava fazendo, era sábado em torno das 18hrs e eu ia o chamar pra ir a igreja comigo, andei pela casa toda, não o encontrei, decidi bater no banheiro, era o único lugar que restava, a casa toda aberta, nem o pai, nem a mãe estavam lá, então ele tinha que estar. Bati na porta, ninguém disse nada, então resolvi entrar pra verificar se realmente não tinha ninguém lá. Tinha alguém lá. Tinha o Rafael afagando o braço, e ao mesmo tempo enrolado um pano por todo ele. Tinha a pia cheia de sangue. E tinha uma droga de uma gilete em cima da pia. Eu peguei o braço dele, desesperada, e fui ver, os cortes não eram profundos, mas o problema não era esse, o problema era o que estava o levando a fazer aquilo. O problema era como ele pode fazer aquilo consigo mesmo, logo ele que sempre foi tão saudável psicologicamente. E lá fui eu cuidar das feridas dele, e conversar com uma paciência que eu não tinha, tentar tirar dele o que estava o levando a fazer aquilo. Ele não me disse. Eu me entristeci, porque eu era a melhor amiga dele, e ele tinha que me dizer, mas não insisti. Apenas demonstrei a minha chateação e cuidei dele. Quando eu estava indo embora, ele segurou meu braço e disse que era por causa da garota que ele era apaixonado. Eu fechei a cara ainda mais, esculachei a menina a qual eu nem sabia o nome, falei que ela não merecia que ele fizesse isso por ela, que se ela não correspondia o amor dele ele tinha que partir pra outra. Disse que era tolerável ele entregar o amor dele pra alguém que o desprezava, mas a vida. A vida não! Eu não toleraria isso jamais. Até que parei para respirar. Segurando meu braço, ele disse: “Ela é você!” Eu fiquei sem reação, lógico. Eu não acreditava que eu estava fazendo isso com meu melhor amigo, e acreditava menos ainda que ele havia se apaixonado por mim. Eu o abracei, acho que ficamos meia hora abraçados, ou mais, e a única coisa que eu consegui foi fazê-lo prometer que não se cortaria nunca mais, por ninguém, por nada. Ele me prometeu. Eu voltei, nós sentamos no sofá e ficamos ali por um longo tempo em silêncio, mas nós conversávamos. O nosso silêncio conversava. Os dias foram passando, dia de semana nós nos víamos quando dava, mas os fins de semana dele era meu, e o meu era dele. Sempre estávamos juntos. Os meses foram passando, ele sempre dizendo que a paixão dele estava crescendo, e eu dizendo que ele estava apenas confuso, ele questionando que ninguém fica confuso por mais de um ano, e eu dizendo que ele ficava. Passaram-se dias de semana, fins de semana, festas, baladas, rodeios… E aconteceu o que temo dizer, pelo simples fato de que eu não quero acreditar, não quero me convencer disso. Ele… Morreu. Não morreu porque nós brigamos, ou porque decidimos cortar a amizade, não morreu porque foi pra outra cidade, país. Não morreu porque alguém o matou, na verdade, talvez indiretamente eu tenha o matado. Não morreu porque adoeceu. Morreu porque ele optou pela morte. Porque ele decidiu acabar com a vida dele. A mãe dele disse que as ultimas conversas deles andavam sendo sempre sobre mim, disse que ele dizia que a dor de não ser correspondido o torturava. A mãe dele disse que ele chegou a dizer que quem se mata, se suicida, não faz isso com a intensão de tirar a vida, faz com a intenção de acabar com a dor que mora dentro de si, de acabar com o vazio que ocupa todo o interior. A mãe dele se assustou com essa conversa, mas como eu já disse, ele sempre foi tão bem psicologicamente que na mente de ninguém cogitaria a ideia de que ele tiraria a sua própria vida. E o pior é que hoje eu me sinto completamente apaixonada por ele, eu precisei perder, não pra dar valor a ele, porque eu dei, mas pra descobrir o verdadeiro valor dele. Porque eu achava que o amor que eu tinha por ele, era um amor-amigo, um amor-irmão. Mas não. Ia além. Vai além. Vai até que eu o encontre lá no céu.” Ela está chorando, chorando muito. Mas insiste em continuar, a raiva transparece em seu tom de voz, na forma em que fala. “Ele seria uma ótimo marido! Entendeu agora porque eu sempre tive medo de falar dele? Por mais que você finja que não, você se apaixonou por ele. Qualquer uma se apaixonaria, mas apenas uma teria o seu coração. Eu queria que essa uma não fosse eu, porque se não fosse ele ainda estaria aqui. Estaria aqui no nosso meio me ajudando a contar essa história, e o melhor de tudo… Ela teria um final feliz.
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