quarta-feira, 12 de setembro de 2012

"Ele não era o cara certo. É triste, irritante e perturbador. Mas ele não era. Não abria a porta do carro, achava normal rachar a conta no primeiro encontro e adorava sexo em público. Ele era normal. Nem alto, nem baixo, nem magro e nem gordo. Nem lindo de morrer nem feio de correr. Mas tinha um sorriso de menino travesso e os olhos mais doces do mundo. Só os olhos. E a gente nem tinha muita coisa em comum. Mas também odiava motel barato e gente efusiva. Ele provavelmente não era o cara certo. Não tinha paciência quando eu estava de tpm e não era do tipo romântico. Nunca me deu flores, nunca beijou meu olho ou recitou um poeminha clichê. Nunca nunquinha. Mas sempre beijava minha testa ou o topo da cabeça. Segurava minha mão sempre que dava e tinha os melhores dedos pra fazer cócegas. Ele era meio irresponsável, dirigia sem carta de motorista e xingava velhinhas no trânsito. Mas sempre me poupava das suas grosserias ou daquele cigarro maldito. E coitada de mim se eu fumasse. Ele agia feito meu pai e tirava do sério até minhas amigas virtuais. Não tava nada certo. Ele não era o cara. Minha mãe achava que ele merecia um par de tênis novo e meu pai tinha preconceito com sua cara meio amarrada. Mas eles até gostavam dele. Porque por algum motivo idiota, eu parecia feliz. Eu também odiava seu cabelo todo bagunçado e não era fã daquela sua amiga meio mestiça. Ele não perguntava se tava tudo bem, não fazia questão de ouvir um “eu te amo” todos os dias e não tinha todo o tempo do mundo pra mim. Então, o cara certo com toda certeza não podia habitar o mesmo corpo que ele. Mas ele simplesmente sabia que tava tudo bem ou tudo mal. Ou que eu o amava, todos os dias e sempre um pouco mais. E o pouco tempo que tinha, era meu. Não precisava compartilhar atenção com ninguém. Era eu, ele e sua cachorra ciumenta. E eu também não gostava do seu gênio forte e da sua tendência a fazer burrada na maior parte do tempo. Não gostava do seu perfume enjoativo e nem daquela cueca xadrez. E ele tinha um jeito estranho e inteligível de me acalmar ou me mandar calar a boca. Então, em algum momento, entre as amigas contra e as briguinhas pelo telefone, ele parecia ser o cara. E eu não tô dizendo que sou louca por ele ou que consegui mudar o seu teu jeito meio burrão de ser. Nada disso. Na verdade, eu não ligo se ele bebe mais do que os caras do boteco ali da esquina ou se me dá um bolo às vezes. Eu só não acho que ele possa ser o cara certo ou o errado quando na verdade, ele é o cara."
~ Gabriela Machado.

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