O que fará hoje à noite? Não precisa responder agora. Apenas sorria desde já e, se puder, sem pudor, prepare-se para que sua coxa seja percorrida por aquele arrepio bom, revestida pela inevitável aspereza que lhe cobre a epiderme quando eu sou o animal faminto que lhe devora a nuca nua ou, então, quando minha saliva é a tinta fresca que picha seu corpo todo, diante da lua e bem no meio da rua.
Eu confesso que você me dá febre e que me faz ranger os dentes só de pensar na calcinha de algodão que escorre sempre suave por suas pernas quase infinitas, até chegar a seus pés e, enfim, perder-se inexplicavelmente em algum canto desconhecido de qualquer quarto fora do planeta.
O que fará hoje à noite? Eu já sei: desmarcará qualquer coisa que não seja uma embriagante dose de nós e aceitará meu convite para um passeio inesquecível ao redor da Lua, sem gravidade ou censura. Daremos mil passos por um espaço só nosso e hoje uma fusão nuclear colará minha carne crua em seus ossos.
Eu sei que você demorará horas, possivelmente séculos, para escolher um vestido que, com toda certeza, terminará despido, rasgado ou, com sorte, derreterá em pleno bistrô, quando eu fizer seu corpo ferver e disser em seu ouvido o quão fundo estou disposto a encaixar-me em você e o quanto desejo que seja a medida do seu terremoto particular.
Hoje eu quero que a cama quebre as pernas, pois não aceito que nada neste mundo seja capaz de suportar o peso de nossa valsa horizontal. Quero que a vidraça estilhace,
para dividirmos com o resto do universo o pouco que restará de nossa voz rouca, que invadirá outras casas com o grito incontido que nunca caberá em nossa boca.
E, mesmo que o céu todo desabe sobre nós, sei que permaneceremos de olhos bem fechados, protegidos por uma fina camada de suor e em meio aos escombros e ruínas de todo o resto sem nenhuma importância. Estaremos inteiros, completos e perfeitamente sujos como sempre. O que fará hoje à noite? Pego você às oito e talvez não a devolva nunca mais.
Ricardo Coiro (entendaoshomens.com)
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