sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Das pronúncias via olhares não dados eu prescrevi o meu universo inteiro. E guardei. Eu nunca te falei sobre a minha falta de jeito em lidar com o desassossego diário e sobre as minhas faltas perante a insistência pela existência. Eu sempre esclareci a minha vontade tamanha de fugir, mas acho que pessoa nenhuma enxergou o meu lado de quem só precisava se esconder do mundo por um segundo. E eu escondi tanto de mim por não saber lidar com tanto. Por não saber gritar, por não saber amar, por não saber o que fazer com os meus planos de conquistar a lua, por não achar lugar algum no mundo, por ter baseado os meus dias em destroços e tentar erguer um castelo rodeado por ilusões secas e tristes. Depois sentir tudo desabando outra vez e colocar a culpa na vida, quando na verdade, eu era o erro. Eu era o desequilíbrio, eu já era tamanha desordem antes da vida me impor a falta da luz. E o meu íntimo era um teatro que retratava simbolismos que alma nenhuma conseguia controlar. E fazer parte desse teatro era o que me restava: o olhar para dentro, esconder essa parte de mim. Viver dos meus silêncios. Ajustar os meus feitos à minha catástrofe. E esperar o dia em que a minha fuga se personificasse, ao tempo que meu desassossego se abrigou na bossa nova das curvas da tuas mãos. E não soltar elas mais porque o que de mim fez sentido, só faz em você e eu já não sei ser algo além desse pouco. Já disse Fernando Pessoa: eu nunca aprendi a existir.

-Arcádico

Nenhum comentário:

Postar um comentário