"217 dias. 7 meses e meio. Não era pra acontecer. Não era pra durar. Mas por coincidência, ou não, as coisas começaram a dar certo entre nós. O problema é que, enquanto podíamos ser o tudo um do outro, preferimos ser o silencio do outro. Eu podia gritar, mas ela nunca me ouviria. Eu até podia correr ruas e mais ruas para espera-la no portão do colégio. Poderia, mas ela nunca me esperaria. Ela tá certa, ela sempre esteve certa. Eu planejo enquanto ela faz. Eu penso enquanto ela tá agindo. Ela é precipitada, quase não pensa pra falar. E por ser assim, eu acabo sendo o atrasado da relação. Digo, quase-relação. Ela é mimada, e por ter tudo que sempre quis, eu acabei me entregando a ela. Ela é carinhosa, é ainda mais quando quer alguma coisa. Ela sempre quer alguma coisa, e o problema é que tenho que adivinhar o que é. Sempre tem algum problema. Ela é o problema. Talvez nos mereçamos um ao outro, por não merecermos mais ninguém. O que é que eu vi nela, e o que é que ela viu em mim? Não sei, só sei que juntos fazíamos sentido. Ela é a bagunça em pessoa, e no meio de toda essa bagunça, acabei achando o que me faltava. A gente sempre dá um jeito de arrumar as coisas, ou piorar as coisas. Ela é do tipo preservada, preserva até o fio de cabelo que cai. É do tipo que não deixa ninguém fazer parte da história dela. É do tipo que não pensa pra fazer, e por agir dessa forma, ela comete as maiores burradas. É do tipo que se ofende com um “não”, do tipo que nega inúmeras vezes pra provar ser a certa mesmo sendo a errada. Do tipo critica. Do tipo que lê pilhas de romances cor-de-rosa. Do tipo que vive no próprio mundo imaginário. Do tipo criança. Do tipo ingenua. Ela é culta, mas quando fala mal do artista preferido dela, ela vira o cão em pessoa. Ela nunca foi o bastante pra mim. E ainda sim, ela aparece quando eu quero, faz o que eu quero, e fala exatamente o que eu quero ouvir. Sempre vou embora, sempre bato a porta e deixo ela. Mas eu volto, todos os meus “adeus” são sinônimos de “volto logo”. A gente sempre dá um jeito de esconder as mancadas. Só que uma hora n’outra a casa cai, e ficamos nessa de odiar um ao outro. Mesmo negando, mesmo sendo orgulhoso e prepotente, é pra ela que eu sempre volto. Ela não confia em mim. Ela odeia meus cortes de cabelo. Odeia minhas roupas. E odeia meu jeito desleixado. Ela odeia minha voz de quando to com sono. Ela vê defeito até na comida que como. Ela me prende achando que sou propriedade dela. Ela sempre fode com tudo. Ela gosta do inesperado. Gosta de surpresas, só que o que ela quer ainda não tem preço. Ela consegue ser meu tudo por mais que eu não dê permissão para ser nada. Ela descobre tudo. Descobre até minha senha. Ela me descobre sempre. Eu nego dizendo que ela não sabe de nada, e nego até a morte se for preciso. E puta merda, me tornei parte dela, tornei o cara dela. Tornei o amor dela. E é por isso que sou dela.Porque somos do tipo alma gêmea, e meu amor, almas gêmeas nunca morrem."
—Prévia de Nosso Primeiro (quase) Amor, Gustavo.
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