domingo, 9 de setembro de 2012


Eu poderia começar isso dizendo o quão me mata saber que você não se importa com nada que tenha ligação comigo, mas isso seria deprimente demais de se ouvir. Ou poderia começar dizendo sobre o quão você me confunde. Ok, segunda opção. Você é a pessoa mais contraditória que eu já conheci, implica com qualquer coisa, ver motivo pra cismar comigo em tudo, e até no que não existe e nunca existiu. Você acha que o mundo gira em torno de você, e que as coisas devem ser feitas a sua maneira, mas depois vem com um papo de que faria tudo por mim, enquanto na verdade não move um dedo, não tem sequer nenhuma atitude.
Eu diria que as coisas seriam menos difíceis de compreender se você não dificultasse tanto pra falar o motivo de ser indiferente em determinados momentos, ou quase todos aqueles em que estamos nos falando, afinal, é meio impossível passar um dia sem discutir com você, é meio impossível que em um dia não há algum impasse que nos faça regredir e dar um passo pra trás, talvez nós nunca possamos conseguir avançar essa fase ridícula de parecermos adversários um do outro. Talvez a rotina seja essa: contestar com você, ter os nossos prós e contras, entrar em um acordo temporário, restabelecer e pronto, discutir de novo. É sempre assim, cara, não tem jeito, não temos jeito.
Eu posso te dizer com total certeza de que você tem uma mania insuportável de não saber reconhecer seus erros. E se isso for um defeito, por mim tudo bem, afinal, eu meio que me habituei as suas falhas, desordens e deslizes. E possivelmente tenha sido por causa deles, que somos o que somos, ou deixamos de ser. Somos apenas dois intrusos na vida do outro, cada um com seu argumento pra tentar ser proprietário do outro, as vezes somos, as vezes nem queremos aceitar isso. Na verdade, não somos muita coisas, não nos permitimos ser, talvez porque você não admita isso, talvez até porque você não queira. Talvez porque você tenha medo de concordar que depende de mim, porque você sabe muito bem, que sou eu, que sou a única pessoa que consegue aturar todas as tuas crises, todos os teus dramas, todas essas tuas indas e vindas que nunca tem fim. Eu tolero em silêncio, só a espera de que um dia você caia na real de que isso me desgasta um pouquinho a cada dia que se passa.
É sempre a mesma coisa: eu espero para você parar com todo esse tumulto que você cria com você mesmo, e peço pra que você se coloque no meu lugar. E o que você diz? Que a culpa é minha, que sou eu a causa de você ser tão “tanto faz” pra mim, porque puta que pariu, até você sabe que eu sempre volto, eu sempre volto pra você, independente da merda que você tenha feito, independente das merdas que você tenha me falado, independe de eu ser completamente dispensável pra ti. Isso me corrói aos poucos, ao mesmo tempo em que me faz querer acreditar que tudo isso terá algum resultado positivo no final. É estúpido, e provavelmente eu tenha me tornado isso desde que você decidiu tornar de mim, uma grande desordem.
Passo horas e horas te dizendo coisas que você nem escuta, e muito menos presta atenção, enquanto na verdade eu só preciso te dizer que quero apenas ter uma conversa civilizada, mesmo você dificultando 100% isso. Além disso, só basta eu apontar que você está completamente errado diante a alguma situação, e você vem me mostrar erros que cometi há dois meses, quatro, cinco. Porque você simplesmente não consegue escutar minhas críticas construtivas, e tentar ver um pouco mais de si e parar de encontrar defeitos em mim. Discussões com qualquer pessoa, atrasos e blefes são o suficiente para comprometer o seu humor diário, você consegue ver consequências de coisas que você fez no passado, e até por isso, se decepciona consigo mesmo, você reflete coisas como “se ele/ela fizesse isso, talvez isso não tivesse acontecido”, mas nunca admite que o problema pode ter sido seu. Fazer alguma aposta, ganhar e se sentir orgulhoso por horas, é fácil pra você, mas perder, é motivo pra falar qualquer coisa como “ah, foi forjado”. Eu sei que você tenta disfarçar as mágoas que você carrega no peito, e sei muito bem o motivo de você sorrir quando te contam algum acontecimento passado, só pra fingir por um pouquinho de que não liga pra isso, eu sei que você se tenta resolver os seus problemas contra o videogame e ainda mais, jogar sozinho por medo de perder. Eu sei que você tenta encontrar a perfeição em você, sem perceber que esse é o seu único defeito.
Essas são só algumas falhas, entre tantas que você comete. E tudo bem. Eu consigo entender que perceber um erro faz com que você se sinta impotente ou menor, se sinta menosprezado, e sinta que isso te faz parecer que você não é “o” alguém, que você não é a pessoa certa pra resolver as coisas que ninguém consegue. Nunca conseguiu. Mesmo quando você reclama de tudo, das apostas perdidas, das pessoas que te deixaram desolado, das discussões, atrasos e blefes. Mas é nisso aí, nessa confusão que você se tornou, que eu consigo ver a parte sua que eu mais amo, a parte que nem você consegue admitir que tem. E eu também entendo que você prefira jogar videogame sozinho, porque perder para mim não deve ser fácil, e admitir que perdeu, é meio impossível pra você.
Você vê? Eu vejo. Vejo todas as falhas que você tenta corrigir, vejo todos os defeitos que você tenta esconder ou disseminar, eu consigo guardá-los em um compartimento meu e esperar você abri-los pacientemente e perceber que são por eles, justamente por eles, que você se torna a única pessoa que ainda possa valer a pena. Digo, pra mim. Afinal de contas, amar as qualidades é fácil, fácil até demais. E eu te amo por inteiro.”
- Caixa de falhas, Ariel S. 

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