segunda-feira, 17 de março de 2014

Quando faz silêncio, sou só. Sou só quando a música termina e a multidão se desfaz. Não tenho moradia fixa. Eu, que sempre aclamei lares. Perdi minha definição de casa entre viagens e pontes aéreas. Nenhum extremo se encaixa no vazio do meu peito, um pedaço sempre é esquecido do outro lado. Ouço risos em tragos de cigarros e não sinto nada, há convites irrecusáveis na caixa postal e não me sinto tentada a aceitar nenhum. A sensação de que meu tempo já não reside em raízes antigas está presente constantemente. Não há gritos de socorro porque não quero ser salva. As mãos não tem apoio além das paredes desbotadas do quarto. Nelas, fotografias de almas bonitas para não enlouquecer nas intermináveis horas. Gosto de recordações, olhos que se encontram no exato momento do flash, sorrisos escancarados na felicidade momentânea do clique. E não há sequer uma alma que compreenda todas as vezes que dormi com ânsia de um colo que ninguém pode dar. O silêncio através da janela colonial não absorve todas as vezes que olhei para o céu e senti o peito oco e, ainda assim, pesado. Os latidos da vizinhança não conhecem a solidão instantânea que me invade num cômodo cheio. O silêncio me inquieta e os sons me rasgam, as vidas que se desenrolam num baile de máscaras que prossegue o carnaval.

Sou invariavelmente só. Ainda que completa, ainda que receba tua mensagem saudosa às seis e meia da tarde - tua memória ecoará nos minutos das próximas horas, rascunhos de sorrisos surgirão, não mentirei -, ainda serei só às seis e trinta e um.

G.

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