Eu sou triste. Segurei o telefone até esbranquiçar os nós dos dedos e disse com toda a coragem que tinha, eu sou triste. Sou triste, não pelas vezes que tropecei na calçada de pedra enquanto alguém prestava atenção, não pelas vezes em que a vida me devolve bruscamente a realidade, mas porque a tristeza me foi imposta. E eu disse, finalmente disse. A afirmação que me causa espasmos só de pensar dizer em voz alta. Você até pensa em dizer que é bonito, mas se cala.
A beleza se esconde em incontáveis entrelinhas, assim como a tristeza. temo o riso do outro lado da linha, o escárnio de quem talvez não compreenda que às vezes toco as fotografias na parede e me imagino sendo absorvida pela tinta. Os dedos mergulhariam primeiro, atentos, tímidos, trêmulos. Então haveria espaço para braços, cabeça e tronco. Eu hesitaria, mas segundos depois mergulharia por completo. Perdida num passado qualquer, quase uma viajante do tempo. Então, a efemeridade acabaria.
Já me disseram que sentir em demasia é bonito, tão bonito. E, céus, que bom seria se fosse verdade! Antes fosse apenas como um poema de Drummond, e não como os escarros de Augusto. As pessoas não enxergam além, vê? Tudo é tão fugaz e se apaga tão rapidamente. Vejo jovens se perderem em deslizes nomeados erroneamente de amor pra vida toda e viro os olhos como alguém cansado de tanta bobagem. A eternidade parece não resistir mais de duas semanas nos meus lábios. Poderíamos ser eternos agora, já quis dizer, mas a frase morre antes de chegar aos dentes, a despedida incompleta. Às vezes me lamento pelas partidas, mas logo recordo que não sou feita para criar laços. Não importa a voz mansa que você tenha do outro lado da linha, eu sei, simplesmente sei, que não fui feita para permanecer. Juro que as palavras doces não são forçadas, realmente quero ser leve, alguns enxergam essa tentativa vã com carinho. Ainda falo de amor como se todos os finais felizes me coubessem e suspiro de frustração ao constatar que livros de términos tristes são mais reais.
Eu sou triste, disse como se confessasse um crime. Eu sei, você respondeu. Um nó desfez meus lábios e se fez no meu peito.
(G. Ceciliando)
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