Ela não reage, não me responde nada, só fica escondendo o rosto, coisa que eu encaro como um sim. E aí eu levo o pé que estava na minha mão até minha boca, e vou admirando e chupando cada parte da sua pele, os dedos sinuosos e elegantes, o calcanhar levemente esfolado da sandália, o ossinho interno do tornozelo, as canelas cujos cabelinhos de um dia atritam com minha barba de oito dias. Paro nos joelhos e os mordisco um por vez, ela não consegue se mexer e só sabe chorar, chorar, chorar baixinho. Não porque ela não quer que a coisa aconteça, mas porque o que vai acontecer é bom, e ela não sabe mais o que fazer com o resto da vida que tem.
Gabito Nunes
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