"
Comecei essa daqui sem saber ao certo se enviaria, espero que no final eu decida. O fato é que essa semana eu lembrei de você. E não foi por um ou dois dias, na verdade foi a semana inteira. Fomos tudo ou nada durante tanto tempo que esqueci como é ser normal com alguém. Esqueci o conforto de saber que ainda vou ter com quem dividir a cama quando o sol aparecer. Porque essas certezas não dá pra ter com você. Nunca sei se vai continuar a me amar quando o efeito do álcool passar. É que eu já curti isso por tempo demais. Essa semana deu volta de ser mais adulta, mas você é o lado criança rebelde do qual eu não consigo me desprender.
Passei tempo demais achando que o amor é superestimado e esqueci de provar eu mesma, não me leve á mal, mas tudo na teoria é mais fácil de encarar. Mas o fato é que, passei a semana inteira com a vontade insana de gritar que o mundo é injusto demais. Gritar por gritar mesmo, com você, com minha vizinha do quarto andar ou com as paredes roxas da sala de estar. Só queria por pra fora a confusão daqui de dentro. Mas não é tão fácil assim.
Sei que deveria ter arrumado a bagunça que você fez comigo há muito tempo, mas varri tudo pra baixo do tapete. Prefiro fingir que não to nem ai quando você passa e chorar escondido no quarto uma madrugada inteira, é mais fácil do que encarar de frente esse tudo ou nada que a gente é. É mais fácil fingir que não tem nada demais acontecendo porque vai que ai não acontece nada demais mesmo.
Tua ausência grita alto demais pra ser ignorada, e olha que eu tentei. Tentei tantas vezes que nem usando todos os dedos, seus e meus, não conseguiria contar. É irreal essa coisa de gostar tanto de alguém. É tipo andar de montanha-russa tendo um medo do caralho de altura. Mas uma hora para. A adrenalina passa. E tudo o que sobra são lembranças dos momentos mais insanos da sua vida. Quase irreal, eu sei.
Você disse que não queria dar título ao que tínhamos (ou temos, eu sei lá, já faz duas três semanas, quatro dias e sete horas que você não me liga de volta; não que eu tenha contado) pra não complicar. Porque quem tem necessidade de narrar o que sente na verdade não sente nada além do medo de ficar sozinha outra vez. Você diz que nunca na vida viu uma garota igual á mim. Estranho pensar que você disse o mesmo pra ruiva que deve estar saindo do seu apartamento agora, e pra loira antes dela, e pra de cabelo azul daquele dia e provavelmente dirá pra universitária que espera sua ligação sentada na mesa daquele pub de esquina nos quintos. Acontece que ninguém é igual a ninguém.
Te pedi pra me definir com dez coisas palpáveis e você escreveu uma lista num papel de pão amassado que me fez questionar o que eu via de tão diferente assim em você. Mas você já foi bom demais pra ser verdade então eu acho que isso é o que conta. A gente podia fazer silencio e fingir que a vida tá perfeita pra nós dois. Porque de baixo da coberta, com meu cabelo fazendo cocegas no seu nariz e um filme qualquer passando na teve, é até fácil acreditar.
Você me gritou á três noites e eu fingi não escutar. Continuei ouvindo Artic Monkeys e seguindo com a vida. Passei no farol vermelho pra não encontrar com você na faixa. Uma multa de duzentas pilas só pra não encarar teu sorriso e tua capacidade de fingir que tá tudo certo entre a gente mesmo quando não tá. Porque a gente gritou e chorou muito da ultima vez. Porque os vizinhos ameaçaram chamar a policia e dessa vez até pareceu sério. O fim podia até ser. Desculpa a covardia, mas é mais fácil assim. Sempre que o amor batia na porta eu deixava ele entrar, fazer bagunça e depois sentar na poltrona e olhar pra mim querendo ter conversa séria, com um ponto de interrogação na testa. Ele sempre me olha e fala “e agora? Soma ou some?” e eu ignoro. Sirvo mais uma xícara de chá, talvez café e uns biscoitos de polvilho. Ajo feito uma criança mimada até ele ir embora. E ele vai, bate a porta todo birrento e jura não voltar. Mas o desgraçado sempre volta.
Mas essa semana eu lembrei de você. Talvez porque nosso blues tocou no radio pelo menos quinze vezes. Talvez porque o lençol já não tem seu cheiro. Talvez por desconfiar que nosso fim tenha afinal chegado. Talvez por sentir frio nos pés frios de noitinha. Talvez por ter voltado a dormir de roupa. Talvez por não ter seus discos espalhados pela casa ou seu gato miando as sete e pouco, querendo o pouco de Whiskas que você sempre põe de manha. Talvez por talvez sentir sua falta, mas só talvez e só um pouco. Porque admitir que deu saudade seria o mesmo que admitir que ando precisando de você. O que, de verdade cara, não vai rolar.
Esperei a campainha tocar. Não tocou. Esperei você ligar, mas o telefone tá quietinho no criado mudo ainda. Clico na tela com a desculpa de ver que horas são, mesmo tento mais de cinquenta relógios funcionando pela casa. Eu queria uma desculpa pra ter a certeza de que você não tava mesmo nem aí. “Sem mensagens. Sem ligações perdidas. Não foi dessa vez”. E não foi mesmo.
Decidi deixar essa pra você encontrar. Nem entregar nem guardar. Acho que o carinha dos Correios quer me perguntar se eu sei da existência dos e-mails. Quero perguntar pra ele se por caso ele já recebeu uma carta que não seja a conta de gás, luz, água ou telefone. Cartão de crédito também não conta. Ele não sabe como é e a verdade é que a maioria das pessoas também não sabe. Deixa eles viverem o século vinte e um enquanto a gente tá no dezenove e pouquinhos. Dá mais graça assim.
Me liga de volta. Diz que me encontra ás seis na minha cama. Que é pra eu estar só de pijama. Que vai passar um filme legal na Tela Quente e que você quer muito ver. Mas não sai assim. Não me deixa sem saber se esse fim é de rotina ou se é fim do tipo “acabou-tudo-entre-a-gente-e-o-problema-sou-eu-não –você”.
Ata ou desata, só não fica nessa. Já vivi “talvez” demais, mas essa semana eu lembrei de você, então sei lá.
“1 – Artic Monkeys
2 – Tati Bernardi
3 – Clarice Falcão e Legião Urbana
4 – Sorriso bonito
5 – Cintura mais fina que já vi na vida
6 – Lasanha
7 – Chantilly em cima de quase tudo
8 – Novela das oito
9 – Green Day
10 – Péssimo gosto decorativo.”
Em anexo, o que eu sou ou costumava ser, segundo você. Com amor,
A mesma de sempre.
Caroline Moraes, http://cacadoradesonhos.tumblr.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário