Somos aquela censura na tarja preta de um terror. Proibido para menores de alma. Eu vou rasgar teus dedos, um por um, para que não deixe digitais em nenhuma dor que não queira possuir. E quero que deixe meus olhos esmagados no chão para que eu sinta, verdadeiramente, o que é ver além da minha carcaça. Ser um esqueleto coberto de carne eu já passei minha vida inteira sendo. Quero que o nosso sentimento beba todo aquele formol e seja um embrulho de morte, mas eterno. Um embolado visceral que una nossos pesadelos e demônios dentro de uma gaveta. Assim, meu bem, como sempre sonhamos. Arrancar no dente as tuas unhas, os teus cabelos, lamber a sua tortura. E para o tiro no crânio, aspirina. Para o cérebro esmiuçado no chão, tempo. É o que dizem os noticiários. Mata um, passa o tempo, mata outro. Inveja, suponho, sentem aqueles que não podem ver as tuas lindas rugas na testa enquanto me matas todos os malditos dias, arrancando a minha roupa e a minha pele, a minha vergonha e o meu orgulho. Matando-me todos os dias, na espingarda, com um arrombo no peito que você já tem a chave. Um amontoado de veias, um corpo desossado. Somos um cadáver só, na lata do lixo. Somos homem-bomba nessa visão turva e cheia do prazer de te ver padecendo por mim como num espetáculo, cheio de cestos, Cleópatras e cobras. O teu suicídio, como não devia deixar de ser, eu aplaudi de pé, quase sofrendo. Eu sinto as noites que formamos a forca juntos, que alisamos o cano do revólver como quem ama a própria depressão. Somos tristes, e já é possível ouvir a sirene. Não sei da delegacia, não sei do hospício. Só sei que é o barulho que desassossega o nosso sublime ato de crime passional. Devora o meu coração com lágrima e pimenta antes que a polícia chegue. Hoje é lua cheia, amor, e eu calculei a quantidade de veneno por litro de sangue só por você.
Cinzentos - Todo mundo é psicopata.
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