Eu tenho medo de me acostumar com essa vida meia-boca, com esses meio-termos diários, com essas meia-cores que me pintam. Eu tenho muito medo de me acostumar com o que não me faz feliz, com a ideia de falsas esperanças, com um coração gelado. Tenho, tenho medo. Medo de acordar e sentir cada esquina do meu ser implorar para que eu continue dormindo. Medo de saber que preciso voltar, mas não conseguir sequer dar um passo pra frente. Tenho medo de me acostumar a sentir saudade, sem conseguir mata-la. Medo de me acostumar com o errado e deixar de querer o certo. Medo de ser demais e chegar um dia que eu seja de menos. Eu tenho medo de continuar empurrando a minha vida como um prato de comida que não se quer mais. E mais medo ainda de querer novamente saborear o prato, mas o garçom já ter tirado ele da mesa. Eu tenho medo de acabar sem nada e me acostumar com o nada. Tenho medo que a falta de ânimo e de interesse me impeçam de vivenciar histórias lindas. Medo de não ter histórias lindas para contar pros meus netos. E mais medo ainda de ter histórias lindas pra contar, mas não ter nenhum neto ou qualquer outro alguém que possa ouvi-las. Tenho medo de deixar pra fazer ou dizer algo amanhã. Tenho medo de amanhã não acordar e ficar devendo fazer ou dizer algo. Eu tenho medo de me acostumar com a mesmice e não querer mudar. Tenho medo de precisar mudar e não saber como. Tenho medo de saber, mas não ter coragem. Eu tenho medo de ter coragem sobrando e oportunidades faltando. Tenho medo de ver a vida pra sempre de olhos fechados.
— Capitule
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