❝Já quis muito morar num sorriso teu. Já quis te ligar no meio da noite, ou no fim da tarde. Quis ficar horas e horas me deliciando da sua fala mansa, do seu timbre rouco. Já quis gravar tua voz e colocar como despertador. Ah! Acordaria sempre bem. Já te disse? Morri de saudades, vivi de saudades. Bebi da sua beleza sem você nem saber, e quis te roubar pra mim. Quis sim. Quis guardar todos os seus olhares de uma vez só. Tentei até te decifrar e jurava de dedinho que te conhecia melhor que você mesmo, que morava mais em ti do que em casa. Sonhei com você todas as minhas corriqueiras noites. Não. Não todas, mas sonhei. Sonhei que me perdia num abraço seu - em todos eles. Cada vez que você abria essa boca para sorrir, eu sentia uma vontade inexplicável de dizer o por quê gostava tanto, tanto, tanto de você. Já quis muito que você passasse na minha rua, passasse por mim. Quis que você ficasse. Quis te amarrar no pé da mesa algumas vezes, não disse? Só te queria pra mim. Ah! Quis muito, quis tanto que as noites fossem mais longas e os dias mais curtos. Quis parar de pensar. Quis arrancar minha cabeça fora. Engoli tanta coisa, tanto sentimento, a seco mesmo, raspando na garganta, descendo feito cacos de vidro. Quis muito não me importar, e até deu certo durante algum tempo. Abaixava o som da mente e ouvia o barulho do rádio, os gritos inertes de rock and roll. Nunca gostei de gritos, mas gostava de rock and roll. Eu te quis, cara. Te quis tanto, te quis sempre, te quis parado na soleira da porta com os olhos pousados sobre os meus, te quis na cozinha, te quis nas ruas lotadas de gentes vazias, mesquinhas, preguiçosas, te quis nos becos aos quais via de relance. Te quis, te quero, te queria, não importa a nomeação gramatical, que pretérito é, que vai ser, que foi. Nada disso importa agora. Você se foi. Maldito seja! Você se foi…
— Já quis, quero, não sei. Eu nunca sei. Amanda Leocadio
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