segunda-feira, 23 de julho de 2012

“Yasmin
Menina baixinha com os olhos puxadinhos e o sorriso que mostra todos os dentes. Tem sotaque mineiro, voz aguda demais e cabelo curtinho, quase na nuca. Os olhos são escuros e as bochechas são lotadas de sardinhas claras que a deixam parecida demais com uma criança. Anda desfilando pelas ruas, exibindo seu bumbum redondo e suas coxas grossas demais. Tem peitos empinados e perfeitamente desenhados. Quando ela olha para mim, tem mania de fechar os olhos devagarzinho e sorrir com o cantinho dos lábios, só pra mostrar o quanto aquilo é importante. Quando digo “aquilo”, me refiro a este nosso joguinho que fazemos a meses, de troca de olhares e piscadelas quando o outro não está olhando. Nos conhecemos por acaso, quando andava pela rua e trombamos ferozmente um no outro. Lembro que ela me xingou e fechou a cara, mas quando olhou para minha blusa totalmente suja pelo seu suco morango, ela deu uma risadinha contagiante e me deu um aperto de mão bem firme. Rimos juntos por alguns segundos e logo em seguida já estávamos conversando como se fôssemos amigos íntimos a décadas. Foi naquele momento, momento quase perfeito eu diria, que eu percebi que talvez as coisas não acontecessem só por acaso. Ou então que o acaso era bom demais comigo e me fez esbarrar na menina mais linda da cidade só para mostrar a mim que o acaso existe.
Quando conversamos, ela encosta seus ombros nos meus, e deixa sua mão se pousar sob a mim “sem querer” inúmeras vezes. Ela olha diretamente nos meus olhos, como se estivesse buscando algo dentro de mim. Tem mania de morder os lábios sempre que não sabe a resposta de alguma pergunta que fiz a ela. É tímida na maior parte do tempo, suas bochechas coram sempre que lhe faço algum elogio e seus olhos brilham quando eu digo o quanto gosto dela. E incrível como ela me entende mesmo quando não dizemos uma só palavra. Ela sabe exatamente tudo que sinto e tudo que não sinto, só por um suspirar meu. Ela conhece minhas risadas, meus abraços, minha voz, e meu coração. Sabe de cor minhas músicas prediletas e sabe exatamente qual livro me dar no meu aniversário. Ela não costuma falar muito, geralmente ficamos nos olhando por vários minutos de silêncio. É como se ela gostasse disso, desse silêncio que nos possibilita a calma e o som de nossas respirações nada calmas. Quando discutimos eu a deixo falar até que sua raiva cesse e ela, finalmente, aceite um abraço meu como pedido de desculpas, e claro, um oferecimento a mais de carinho. Ela não gosta dessas coisas de abraços, e contato físico além do necessário. Sempre se afasta quando nossos rostos estão perto demais. Mas mesmo com esse pouco “tocar”, ela ainda me faz sentir de um jeito que nenhuma outra fez sentir enquanto me beijava...
Nunca dissemos “eu te amo”, ela sequer disse que gosta de mim. Ela apenas me olha com aquele olhar profundo, e eu tenho a certeza de que ela gosta de mim, tanto quanto gosto dela. Quando nos olhamos, nos tocamos levemente e trocamos sorrisos, eu sinto algo muito bom, algo que eu não perceberia se estivesse a beijando, ou a tocando de outra forma. Eu não sei exatamente o que somos, mas se continuarmos apenas sendo “nós”, eu ficarei agradecido pelo resto de minha vida por aquele esbarrão que demos.”
— (amargar)

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