terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Agora, depois que todas as luzes se apagaram e a casa ficou totalmente quieta, eu pude refletir sobre a minha vida. É aquele velho tempo que a gente sempre desperdiça até finalmente pegar no sono. Deitado em minha cama, depois de ler algumas páginas de um livro qualquer, encaro o teto do meu quarto como se ele fosse capaz de me ouvir. Como se naquela escuridão fúnebre eu fosse capaz de encontrar respostas. O único som que sou capaz de ouvir é o do ventilador que demora quase um minuto inteiro para completar uma volta e assoprar um vento que não é suficiente para que esse calor causticante se dissipe. Misturado com o barulho da hélice, ouço o som do meu coração. Batidas fortes e sincronizadas. Hora da nostalgia. Fui tomado por lembranças. E me apeguei a uma específica. Lembrei-me de uma tarde de domingo, quando estávamos assistindo um daqueles programas tediosos. Foi quando a tevê perdeu o sinal e ficamos em silêncio por algum tempo. Lembro de ouvir você me dizendo como o meu coração estava acelerado. E eu, feito um bobo apaixonado, apenas respondi que ele batia por você. Não foi preciso palavras ou jogo de sinais, apenas em ver um sorriso tomar conta dos seus lábios, pude sentir que era recíproco. O seu coração estava tão acelerado e frenético quanto o meu, como se eles estivessem colados e batendo de forma compassada um com o outro. Desde então eu me senti uma pessoa melhor e mais completa, apenas pelo fato de que você tomava cada vez mais posse do meu corpo, da minha mente, da minha vida e de mim. Agora, sozinho e sem nenhum resto de amor solidário capaz de me aquecer nesse frio que o vazio possui, tudo o que me resta é encarar novamente o teto do quarto. O problema é que o teto começa a ganhar forma e se transforma no seu nome, o que me faz lembrar de todos os planos que fizemos e não foram concretizados. Você queria dar nomes engraçados pros nossos filhos, pintar as paredes de cores variadas e adotar um cachorro de uma raça estranha. Era engraçado porque quanto mais você se fazia de teimosa, mais eu me fazia de difícil. E no fim a gente sempre acabava se enroscando um no outro, como dois idiotas apaixonados que não sabem viver um segundo longe do fogo corrosivo que era nos amar. Nós sabíamos dos perigos e ignoramos todos eles. Todos os abismos, as quedas e os medos foram passados pra trás. O triste foi perceber que, no fim, quem foi passado pra trás fui eu. E tudo o que me cerca no presente é o vazio, a apatia e a saudade, enquanto o meu passado foi repleto de felicidade, paz e você. Perdi o sono, mas, em compensação, também perdi tudo. Perdi a vontade de levantar da cama e conhecer alguém interessante, porque pessoas interessantes me lembram você. Perdi a vontade de juntar os meus cacos e reconstruir a minha vida, porque essa coisa de vida-nova me lembra a que nós teríamos juntos em um futuro qualquer. Eu só queria te ver sorrir novamente pra mim do mesmo modo que sorriu quando a minha tevê perdeu o sinal naquele fim de tarde. Só isso.
- Querido John e Capitule

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