Eu ainda não aprendi a jogar o jogo, a dizer a palavra certa e ver as portas se abrirem, ainda não aprendi a combinar jeans com um casaco cáqui, ainda não aprendi a sorrir e acenar, a falar devagar, a comer e mastigar, a caminhar sem pensar, eu sou o esquisito que caminha contando os dedos, que aperta o passo, que aperta mãos estranhas e se refugia em si, que montou morada na entrada da sua casa e te espera sair de manhã, eu sou quem omite o dano, que sempre quis aprender piano e ama o som do banjo, eu sou o último rebento do discurso monótono do meu vô sobre a sua viagem aos estados unidos, eu sou o sábado sem sair da cama, eu sou a noite que alguém bebeu demais e jurou amor eterno, o dia que você achou o disco de um cara colombiano por dois reais num sebo antigo, eu sou o último livro que apóia a pilha toda, eu sou o último a ir embora e o único que não entende a piada, eu sou quem passa horas em frente ao espelho treinando discursos que nunca terei coragem de fazer, eu sou quem come o último brigadeiro, quem se despede sem beijo e sempre assiste o outro ir embora, mas fica.
Jorge de Castro
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