sábado, 5 de janeiro de 2013

"Você é alto, forte e bonito: exatamente meu não-tipo. Se veste como todos os outros, joga videogame a mesma quantidade de tempo que meu primo de 9 anos, bebe whisky com gelo sem fazer cara feia e cospe nas plantinhas da rua como se isso fosse muito sensual. Você, incrivelmente, tem tudo que eu aprendi a odiar.
Seu nome é o que não quero que tenha o pai dos meus filhos, seus olhos cor de mel de tão bonitos ficam feios e sua barriga tem seis quadradinhos alinhados demais.
Não sei porque estava com você ontem, odeio aquela cerveja que bebemos e arrepio só de pensar na possibilidade de você me ligar hoje e me chamar para comer comida mexicana.
Sempre entramos no meu carro, coloco para tocar o "tuntz tuntz" que você mais odeia, só porque você odeia e eu te odeio também. Daí você vai, coloca o único CD que tenho de um rapper americano chatíssimo que de tão pouco que escuto não arranha nem quando passo em quebra-mola e abre todas as janelas achando isso tudo muito bonito. Eu deixo, porque gosto do vento que vem no meu rosto e da sensação de liberdade de não deixar meu ar-condicionado no 1 e poder sentir cheiro de rua. "Marcella, para de andar com ar-condicionado ligado, é por isso que seu carro bebe esse tanto de gasolina!". Odeio como seus comentários são tão chatos e certos. Tenho mesmo consumido menos gasolina ouvindo rap americano com as janelas abertas. Você ainda se importa mais com o meu consumo de gasolina do que comigo, mas eu nem ligo. Você é o meu não-tipo, e bebe whisky cowboy sem fazer cara feia. E não posso me esquecer da parte que eu te odeio e você tem aqueles seis quadradinhos muito bem alinhados.
Você é o par-perfeito para aquelas mulheres que usam o blush muito rosado, chamam seus namorados de "bebê" e usam aliança de compromisso. O tipo de mulher que eu não tenho como amiga e cruzo vez ou outra em banheiros femininos e não faço questão nenhuma de fazer amizade. Mesmo sendo o tipo que todos os meus ex-namorados namoram depois de mim e colocam fotos felizes na atualização do Facebook. Se você fosse meu, seria só mais um final igual a todos os meus outros finais. E é por isso que eu te odeio tanto. Você é igual a um monte de coisa que eu já tive e cansei de ter. É tudo muito previsível. Você vai me amar, eu vou achar que te amo, vou parar de ligar meu ar-condicionado e começar a andar com os vidros abertos, me obrigar a voltar a ter seis quadradinhos bem alinhados, aí no dia que desinventar toda a nossa história que inventei porque não tinha mais o que inventar, vou te pedir pra ir embora e só vou lembrar de você quando ouvir aquele cd do rapper americano chato, que provavelmente, já vai estar todo arranhado. E sou tão egocêntrica, que só vou pensar em mim, no meu bem e achar que com você tá tudo bem. Porque logo, você vai começar a sair com as meninas de blush rosado e ser feliz de novo.
Então, entende o porque não gosto de você: você vai existir como se nunca tivesse existido. E tudo que você tem, meu bem, eu não sei amar."

Marcella Brafman sofre de imaginação fértil e só passa escrevendo.

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